Luiz Augusto L. da Silva*
Em 1995 foi encontrado o primeiro planeta extrassolar em órbita de uma estrela de sequência principal. Hoje oficialmente denominado Dimidium, ele foi descoberto através da observação das variações periódicas da velocidade radial de uma estrela do tipo solar, 51 Pegasi, agora denominada Helvetios, situada a uma distância de 48 anos-luz do sistema solar (Mayor e Queloz, Nature, 378, 355).
Na Oficina de Astronomia® número 18, em 5 de setembro de 1997, abordamos aquela descoberta, salientando que a proximidade da estrela ao Sol apontava para uma grande abundância de exoplanetas na Galáxia. Estávamos certos. Em 4 de junho de 2020, uma pesquisa no site da NASA exoplanetarchive.ipac.caltech.edu indicava 4164 planetas extrassolares confirmados, e mais alguns milhares ainda aguardando confirmação. Só o telescópio espacial Kepler, lançado em 2009, descobriu milhares deles. As principais técnicas responsáveis por estas descobertas são a fotometria de trânsitos, e a espectroscopia de alta resolução.
Hoje sabemos que até a estrela mais próxima do Sol, Alpha Centauri C, tem um planeta com tamanho semelhante à Terra girando ao seu redor (veja Anglada-Escud’e, G., et al., 2016, Nature, 536, 437). Esta descoberta sensacional resultou de uma cooperação internacional conhecida como Pale Red Dot Campaign (Campanha Pálido Ponto Vermelho).
Na Via Lactea, é provável que existam ao redor de 40 bilhões de exoterras orbitando nas zonas habitáveis das suas respectivas estrelas. Um grupo de astrônomos norte-americanos liderados por Jonathan Swift, do Caltech, estimou que o número total de planetas na Galáxia poderia remontar à cada dos 100 bilhões, “basicamente um planeta para cada estrela” nas suas próprias palavras (Swift, J., et al., 2013, Astrophysical Journal, 764, 105). E o número real pode ser até mesmo maior, talvez dez vezes maior!
Os próximos passos nesta linha de pesquisa serão a detecção e caracterização das atmosferas de muitos desses mundos (e.g., Kaltenegger, L., 2017, Annual Review of Astronomy and Astrophysics, 55, 433), além da busca por satélites de exoplanetas (exoluas). O estudo detalhado das atmosferas, com auxílio da técnica de espectroscopia, só poderá ser realizado com a nova geração de telescópios gigantes, dotados de espelhos com diâmetros na faixa de várias dezenas de metros, atualmente em construção.
Mas a descoberta da primeira exolua chegou a ser anunciada por Teachey e Kipping (2018, Astrophysical Journal, 155, 36). O exoplaneta KEPLER-1625b, do tamanho de Júpiter, parecia possuir um satélite mais ou menos com o tamanho e a massa de Netuno. Ambos teriam sido observados transitando sua estrela, e observações posteriores feitas com o Telescópio Espacial Hubble pareciam confirmar a descoberta.
Porém, estudos independentes adicionais feitos por Kreidberg, Luger e Bedell (2019, Astrophysical Journal Letters, 877, L15) e Heller, Rodenbeck e Bruno (2019, Astronomy and Astrophysics, 624, A95) sugerem que erros sistemáticos nos dados do Kepler e do Hubble poderiam ter levado a uma descoberta falsa positiva.
Outro problema é que a suposta lua seria grande demais, tanto em massa quanto em diâmetro, apresentando problemas ainda não resolvidos para explicar o mecanismo responsável pela sua origem, dentro dos cenários teóricos disponíveis na atualidade. Assim, a comunidade astrofísica continuará aguardando pela primeira descoberta confirmada de uma exolua.
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* Astrônomo, presidente do Conselho Curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.