Luiz Augusto L. da Silva*
Quando o astrônomo italiano Giuseppe Piazzi (1746 – 1826) descobriu o primeiro asteróide, na noite de 01 de janeiro de 1801, jamais poderia ter imaginado que aquele pequeno ponto de luz fosse um mundo complexo e geologicamente ativo.
Atualmente considerado um “planeta anão” – nomenclatura, aliás, das mais infelizes – com seus 950 km de diâmetro, Ceres é o número um, e também o maior dos mais de 822 mil planetóides conhecidos na atualidade. Ele foi investigado de perto pela sonda DAWN, da NASA, lançada em setembro de 2007 com o objetivo de se aproximar dos dois maiores integrantes do cinturão de asteróides: Ceres e Vesta.
A sonda orbitou Vesta primeiro, entre julho de 2011 e setembro de 2012, partindo depois para Ceres. Enquanto ainda se aproximava dele, no início de 2015, a nave imageou diversas manchas brilhantes, chamadas fáculas, associadas com crateras. Posteriormente se descobriu que estas manchas eram depósitos de sais, como carbonato de sódio e cloreto de amônia, provavelmente remanescentes de quando água salgada ferveu em direção ao espaço, proveniente do subsolo.
Num estudo baseado nas observações da sonda, Michael Sori e seus colaboradores, da Universidade do Arizona (Nature Astronomy, 2, 946), investigaram 22 domos distribuídos pela superfície de Ceres, que podem ser criovulcões.
Um criovulcão expele água e gelo, ao invés de rochas quentes liquefeitas, como se tem aqui na Terra, e na lua Io, de Júpiter. O grupo de pesquisadores chegou à conclusão de que Ceres possuiu atividade geológica entre algumas centenas de milhões e dois bilhões de anos atrás, determinando que a taxa média de extrusão de criomagma foi da ordem de 104 metros cúbicos por ano. Apesar desse número ser bem inferior aos valores típicos para vulcões terrestres, ainda é surpreendente quando se toma em consideração o tamanho reduzido de Ceres.
O mecanismo motor mais provável para o criovulcanismo em Ceres pode ser o calor gerado internamente pelo decaimento de elementos radioativos contidos nas partes rochosas do asteróide. Outra alternativa, embora mais controversa, pode ser que os vulcões sejam localmente incitados por grandes impactos meteoríticos na superfície.
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* Astrônomo, presidente do Conselho Curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
(www.luizaugustoldasilva.com)