Ciência & Mídia

SUPERLUAS E MICROLUAS

Luiz Augusto L. da Silva

A palavra “superlua” tem frequentado bastante os meios de comunicação e as redes sociais em anos recentes. Menos conhecida, “microlua” também aparece. O que significam?

Em primeiro lugar, convém observar que ambas não são expressões técnicas inerentes à ciência astronômica. Derivam da astrologia, e foram adotadas pela mídia internacional, tornando-se popularizadas pelos diferentes veículos de comunicação.

“Superlua” significa a coincidência – ou quase – do instante do plenilúnio (Lua Cheia) e do momento da passagem da Lua pelo perigeu (ponto de menor distância à Terra). “Microlua” se refere à proximidade temporal entre a Lua Cheia e a máxima distância do nosso satélite à Terra (apogeu). Em ambos os casos, não existe critério objetivo quanto ao distanciamento temporal máximo entre uma ocorrência e a outra, isto é, entre a Lua Cheia e o perigeu, no caso de uma superlua, ou a Lua Cheia e o apogeu, no caso de uma microlua.

A órbita lunar é uma elipse com excentricidade média de 0,0549. Por causa disso, a distância da Lua à Terra varia entre um mínimo ao redor de 360000 km (perigeu) a um máximo ao redor de 405000 km (apogeu). A distância média é de 384000 km. O intervalo de tempo entre dois perigeus sucessivos, ou dois apogeus sucessivos, chama-se mês anomalístico, e sua duração é de 27.56 dias. O período orbital da Lua em torno da Terra, conhecido como mês sideral, é de 27.32 dias, enquanto o intervalo de tempo entre duas luas cheias consecutivas, conhecido como mês sinódico, é de 29.53 dias.

A duração do mês sideral difere da duração do mês sinódico porque a condição de Lua Cheia é determinada pela oposição do nosso satélite ao Sol, que depende do alinhamento entre o Sol, a Terra, e a Lua, com a Terra no meio. Como a Terra gira em torno do Sol entre uma lua cheia e a próxima, o mês sinódico será um pouco mais longo que o mês sideral.

A duração do mês anomalístico é diferente da duração do mês sideral porque a linha que conecta os pontos de perigeu e apogeu, chamada linha das apsides, gira ao redor da própria órbita lunar, completando uma revolução a cada 8,85 anos. Este deslocamento é denominado precessão apsidal,  ou precessão das apsides.

Numa superlua favorável, o raio lunar aparente fica 8% maior que o valor médio, e o brilho lunar, 16% mais intenso. A mídia costuma citar percentuais mais altos, porque faz a comparação não com a distância média, e sim com o apogeu lunar, o que não parece muito lógico.

De qualquer forma, as diferenças não são fáceis de perceber, por parte de um observador casual, mesmo alertado, e que não dispõe de equipamentos para medições precisas, como câmeras para a tomada de imagens, e fotômetros para a medida da intensidade de brilho.

O que muita gente acaba tomando por “superlua” é o tamanho aparente maior da Lua Cheia quando ela é vista no início da noite, logo após nascer no lado leste do horizonte. Mas este efeito, conhecido como a “ilusão da Lua”, não tem nada a ver com a superlua. Ele acontece sempre que vemos nosso satélite – em qualquer fase – próximo à linha do horizonte. Também acontece com o Sol baixo, e até com as figuras das constelações. Já repararam como o retângulo formado por Rigel, Betelgeuse, Gamma Orionis (Bellatrix) e Kappa Orionis (Saiph), tendo ao centro as Três Marias, parece maior perto do horizonte do que quando está alto, próximo ao meridiano, nas noites de verão?

Sabe-se que este efeito não é real, e que está relacionado à maneira como o cérebro interpreta o tamanho dos objetos, quando dispõe – ou não – de outros pontos de referência. Capture uma imagem da Lua Cheia próxima ao horizonte, logo após o por do Sol. Horas mais tarde, com a Lua já bem elevada, capture outra, usando a mesma câmera e mesmo zoom. Compare as imagens: elas serão iguais!

Uma superlua pode ocasionar marés um pouco mais intensas. Como se sabe, as marés máximas (marés de sizígia) verificam-se na Lua Cheia e na Lua Nova. As marés dependem do inverso do cubo da distância, assim a coincidência do plenilúnio com o perigeu contribui para uma pequena intensificação nas forças de maré, afetando os oceanos, a atmosfera, e até mesmo a crosta terrestre. De forma análoga, durante uma microlua, as marés são menos intensas que a média.

SUPERLUAS E MICROLUAS EM 2020

Na tabela que se segue, fornecemos, para cada mês, os instantes da Lua Cheia, do perigeu e do apogeu lunares, as respectivas distâncias entre o centro da Terra e o centro da Lua em quilômetros, e os intervalos de tempo entre a oposição lunar e suas sizígias, quando inferiores a dois dias. Este limite, adotado arbitrariamente, permite ver que em 2020 vão ocorrer 4 superluas, a maior delas em Abril 07, e duas microluas, a menor delas na noite de Haloween, em Outubro 31. Esta microlua será, também, uma “lua azul”, isto é, a segunda Lua Cheia dentro do mês de outubro (a primeira acontece no primeiro dia do mês). As superluas estão em vermelho, e as microluas, em azul.

Fonte: Anuário Astronômico Catarinense 2020, Alexandre Amorim, Florianópolis, Brasil (Pedidos: costeira1@yahoo.com)

You must be logged in to post a comment.