Na edição de 11 de setembro da revista Nature, uma equipe internacional de astrônomos liderada por Angelos Tsiaras anunciou a detecção da presença de vapor d’água na atmosfera do exoplaneta conhecido como K2-18b, uma superterra com 8 vezes a massa do nosso planeta e duas vezes o seu diâmetro, que orbita dentro da zona habitável de uma estrela anã vermelha distante 110 anos-luz. As observações foram feitas com a Câmera de Campo Largo 3 (WFC 3) instalada a bordo do Telescópio Espacial Hubble (HST), da NASA.
É oportuno ressaltar que, nos últimos 10 anos, descobriu-se que a água é a molécula mais abundante depois do hidrogênio, nas atmosferas quentes dos exoplanetas gasosos. A equipe de Tsiaras observou absorções na banda infravermelha atribuíveis a moléculas de água. Resta, agora, analisar melhor a composição química da atmosfera, e estimar a quantidade percentual de água. Os astrônomos consideram dois cenários possíveis. No primeiro ,se a atmosfera não tiver nuvens (o que parece, a priori, pouco provável), a água poderia responder por entre 20% e 50% da composição atmosférica. No segundo, mais razoável, que prevê a presença de nuvens, além de outros constituintes químicos, a quantidade de água seria menor, entre 0.01% e 12.5%.
Apesar de estar situado na zona habitável ao redor de K2-18, portanto numa região onde as temperaturas permitiriam a existência de água em estado líquido, provavelmente a composição química total da atmosfera deste exoplaneta é diferente da atmosfera terrestre. Já se sabe que ela incorpora também hidrogênio e hélio. Além disso, os níveis de radiação são mais intensos, configurando um meio ambiente mais hostil ao possível desenvolvimento de formas de vida (mas não nos esqueçamos dos extremófilos…).
A presença de água, embora instigante, por si só não garante a presença de vida. Veja-se, por exemplo, o caso de Vênus, aqui no sistema solar: trata-se de um planeta com dimensões gêmeas às da Terra, situado na zona habitável do Sol, e que já teve água, nos primórdios da sua história geológica. No entanto, não conseguiu retê-la, e parece que não tem vida, hoje.
Consequências Astrobiológicas
Ainda se discute se as anãs vermelhas seriam estrelas “amigáveis”, do ponto de vista biológico, para planetas localizados em suas zonas habitáveis. De qualquer forma, algumas inferências já podem ser tiradas da presente descoberta. Começando pelo fato de termos encontrado uma superterra com atmosfera contendo vapor de água, dentro de uma zona habitável, a apenas 100 anos-luz do Sol. Isto indica claramente que exoterras potencialmente habitáveis são muito comuns. De fato, uma estimativa derivada a partir dos dados colhidos pela missão Kepler, sugere que possam existir até 40 bilhões de exoterras em zonas habitáveis estelares dentro da nossa galáxia, a Via Lactea.
E “onde estão eles?” A sugestão é forte: vida extraterrestre sim, inteligências talvez, mas civilizações não. É hora de dar adeus ao cenário pluralista de Carl Sagan e outros. O “Grande Silêncio” não quer calar…