Luiz Augusto L. da Silva *
O conflito bélico entre Rússia e Ucrânia, deflagrado recentemente, além de trágico é muitíssimo mais perigoso do que a maioria das pessoas pode pensar. O risco de início da tão temida Terceira Guerra Mundial é real, assustador, e imediato. Uma vez concretizado, seria o fim. Em questão de dias, passaríamos a experimentar uma situação caótica, dramática, sem nenhum precedente histórico a nível internacional. E também sem esperanças de solução.
No mundo globalizado de hoje, basta quebrar alguns poucos elos da corrente para comprometer a civilização humana, assegurando seu colapso total e irreversível. Um único líder autocrático com sintomas evidentes de demência pode dar conta do recado. Um bombardeio proposital das ruínas sinistras de Chernobyl seria café pequeno para um monstro daquela estirpe.
1%
Todo mundo sabe que o comportamento agressivo e egoísta da maioria dos indivíduos pertencentes à espécie Homo “sapiens” alavancou e construiu a civilização tecnológica que domina este planeta. Planeta que vem sendo destruído e rapinado.
Nosso DNA é 99% idêntico ao dos chimpanzés, nossos primos mais próximos, que também são territorialistas. Mas alguma coisa dentro do 1% de diferença é responsável pela obsessão humana de inventar pátrias, deuses, e moedas. Obsessão que, respaldada pelo desenvolvimento e pela difusão da cultura, produziu memes que reforçam as propensões genéticas.
Na batalha contra genética e memética, a única ferramenta capaz de mudar tendências comportamentais chama-se Educação e, dentro dela, grande destaque para a educação científica. A assimilação eficiente de conhecimentos científicos integrados conduz à gênese de uma conscientização profunda sobre a nossa situação real como seres inseridos no contexto natural.
Mentes lúcidas, municiadas de senso crítico, razoavelmente abastecidas de conhecimentos científicos, nunca desfraldariam bandeiras como as do separatismo patriótico. Ao contrário: lutarão pela abolição pacífica e total das fronteiras políticas, cientes de que a única fronteira que realmente tem significado e faz sentido é o limite difuso da atmosfera terrestre, que nos isola das rudes condições que prevalecem no espaço exterior.
Mentes educadas, cientificamente eruditas, nunca inventarão divindades protagonistas de estórias mirabolantes, fantásticas, impossíveis, que também acabam, com frequência, acirrando conflitos que questionam fronteiras geográficas. Também jamais se atirariam ao jogo fanático, ilógico, arbitrário, e desumano de uma aberração chamada Economia, de cujo evangelho fazem parte conceitos absurdos e ridículos como fronteiras, capitalismo, dinheiro, juros, lucro e prejuízo, todos variantes da ganância.
10%
A idade astrobiologicamente útil da nossa galáxia, a Via Lactea, é cerca de 10 bilhões de anos. Em artigo de pesquisa publicado neste mês [ver da Silva, 2022, International Journal of Astrobiology, 21, (1), 9-31], estimamos em uma civilização por giga-ano a taxa provável de aparecimento de civilizações numa galáxia típica como a nossa. Enrico Fermi (1901 – 1954) nos pergunta, sarcástico: “Onde estão eles?!” Dez bilhões de anos, e nenhuma presença confirmada de seres extraterrestres aqui na Terra hoje… Assim, um raciocínio elementar demonstra que a probabilidade média de sobrevivência de uma civilização tecnológica típica não pode ser superior a 10%. E a maneira como vem se comportando a humanidade parece confirmar isto.
100%
Enquanto as bombas explodem na Ucrânia, destruindo hospitais e matando civis inocentes incluindo crianças, do outro lado do mundo milhares de pessoas se preparam para aproveitar o feriadão de carnaval, mergulhadas numa espiral de alienação delirante, como se fossem habitantes de um outro mundo. Um mundo sem guerras, pandemia, ou aquecimento global e mudanças climáticas extremas.
Bombas silenciosas de lavagem cerebral explodem em suas mentes, num festival interminável de banalidades, canalizadas através das redes sociais, gerando massas vivas de criaturas 100% imbecis, sem nenhum senso crítico. Beneficia-se, com isto, o sistema vigente, sofre e perde o planeta. Repetimos: tudo por falta de Educação.
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* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
www.luizaugustoldasilva.com