Existem cinco cidadezinhas chamadas Piedmont no território norte-americano. Ficam em Montana, no Alabama, Califórnia, Ohio, e na Carolina do Sul. Mas no romance de ficção científica O Enigma de Andrômeda, de Michael Crichton (1973, Editora Expressão e Cultura, terceira edição, Rio de Janeiro), Piedmont é uma isolada vila hipotética com apenas 48 habitantes no interior do Arizona, aniquilada por um patógeno letal de origem desconhecida, trazido pela reentrada de um satélite artificial da série Scoop, destinado a estudos e prospecções das camadas mais altas da atmosfera terrestre. Só duas pessoas sobrevivem: um bebê recém nascido, e um homem idoso.
Uma equipe de cientistas é convocada para investigar a natureza do microorganismo, trabalhando em um laboratório subterrâneo secreto de alta tecnologia no estado de Nevada. Ao final, depois de apenas cinco dias, eles concluem que o agente microbiano, que recebeu o codinome Andrômeda, experimenta mutações com extraordinária rapidez, deixando de ser uma ameaça, tornando-se inofensivo. Adquiri o romance na Feira do Livro de Porto Alegre na primavera de 1975, quando tinha apenas 13 anos. Li, e fiquei impressionado. Jamais poderia imaginar que vivenciaria coisa muito pior 45 anos depois.
Quem nos dera que a crise do coronavírus tivesse durado apenas 5 dias… Mas não é assim. Há mais de um ano o mundo inteiro se debate contra esta nova ameaça proveniente do microcosmos. Mesmo com vacinas, a luz que parece brilhar no fim do túnel ainda é incerta. Diariamente o vírus ceifa milhares de vidas pelo planeta a fora, e suas mutações tornam-se ainda mais agressivas e contagiosas.
Falta de Educação
Podemos afirmar que o coronavírus resulta da falta de educação do ser “humano”. Isto vale para todos os elos da cadeia trágica em que se converteu a pandemia. Desde o início, na China, com o descaso das autoridades locais, o desprezo pelos primeiros médicos que soaram o alarme, e as atitudes dissimuladoras do governo, tentando desviar a atenção e convencer o mundo de que nada de grave acontecia, varrendo a sujeira para debaixo do tapete. Fundamentalmente, tais comportamentos derivaram da falta de educação das autoridades daquele país.
Parece que o vírus começou a se espalhar a partir de um mercado imundo e desumano de animais silvestres na cidade de Wuhan. Dizem que pode ter vindo dos morcegos. Verdade ou não, chineses comem de tudo, inclusive morcegos… Mercados de animais, e o hábito nojento de degustar morcegos são sintomáticos de uma pronunciada falta de educação.
Certo líder governamental acometido de insanidade mental, eleito às custas de uma profunda lavagem cerebral em massa orquestrada por forças ocultas em populações acríticas, adota com insistência atitudes negacionistas, cientificamente infundadas e irresponsáveis, que acabam por se tornar genocidas, ao afirmar que “já chega de frescura e de mi-mi-mi”. No fundo, tudo isto também é consequência de uma falta de educação aguda.
No caso do Brasil, onde a incompetência e o desleixo campeiam soltos na esfera do governo federal, a população, cujo nível médio de educação fica muito abaixo de zero, segue o mau exemplo e promove deliberadamente todo tipo de sandices, como aglomerações, festas, superlotação de praias, e inobservância do uso de máscaras, passando a colher o fruto amargo do colapso total do sistema de saúde, que não pode mais dar conta dos excessos cometidos. Tudo por falta de educação.
Lockdown nem pensar! Que morram mais de 300 mil cidadãos por causa do coronavírus, mas o dinheiro, deus dos mais sagrados, este sim, precisa ser preservado a qualquer custo! Que se dane a vida, salve-se o ouro! Tudo falta de educação…
Mas rezemos, irmãos! Aleluia! Que beleza o mega-culto promovido por igrejas evangélicas na cidade de São Paulo, reunindo dois mil crentes absolutamente fiéis, numa afronta descarada às diretrizes sanitárias básicas que pregam isolamento social, recomendadas pela ciência! Uma iniciativa das mais irracionais. Tudo falta de educação…
Coisas muito mais graves estão por vir. A bomba-relógio já está armada, programada para explodir a qualquer momento. Aaron Gross, professor da Universidade da Califórnia em San Diego chama a atenção para o caso de animais como galinhas (e porcos), que são criados em massa em fazendas industriais, e que experimentam grande e constante sofrimento ao longo de suas curtas vidas – tudo em nome do dinheiro. Criados à base de hormônios imunosupressores, eles acabam atuando como hospedeiros intermediários, “amplificadores” ou potencializadores de vírus, como por exemplo o H5N1, responsável pela gripe aviária. É só uma questão de tempo até que uma mutação neste vírus o torne transmissível pelo ar. Quando acontecer, teremos uma pandemia muitíssimo mais desastrosa e devastadora que a do coronavírus (os índices de mortalidade da gripe aviária giram ao redor de 60% dos casos, mas poderiam até mesmo se tornar mais altos). Será tudo por causa da ganância, que deriva da falta de educação!
E-D-U-C-A-Ç-Ã-O! Ítem essencial na bagagem de sobrevivência. Ou a levamos a sério JÁ, ou estaremos condenados. Existem abundantes indícios de que ambas as opções são – e continuarão – sendo ignoradas.
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* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
www.luizaugustoldasilva.com
20210322