Luiz Augusto L. da Silva*
The general overview is the deadly enemy
Philip C. Plait (1964 – ),
of pseudoscience and the conspiracy theory.
vulgo The Bad Astronomer, (2004).
Se forem extraterrestres, então os grays não existem. Nem os pleiadianos, de aspecto nórdico. Aliás, com relação aos últimos, já demonstramos em nosso livro Meu Universo, publicado recentemente, via argumentos astrofísicos e astrobiológicos, que eles não podem existir. Todos não passam de fantasias delirantes.
Como podemos afirmar com tanta certeza? Simples! Muito provavelmente o aparecimento de sociedades inteligentes autoconscientes tecnológicas no Universo é um acontecimento raro. Muito raro. Em nosso paper publicado em 2022 (da Silva, International Journal of Astrobiology, 21, 9) estimamos a frequência de aparecimento de civilizações como sendo da ordem de 1 civilização/Giga-ano/galáxia espiral típica.
Um corolário disso é que episódios de evolução darwiniana convergente quanto ao aparecimento de formas corporais semelhantes em exoplanetas devem ser extraordinariamente improváveis, para não dizer impossíveis. A natureza não costuma repetir formas. Portanto, os seres supostamente extraterrestres reportados por contatados e abduzidos, além daqueles retratados pela rica filmografia hollywoodiana (diversos deles idênticos, ou muito parecidos com seres humanos, quase todos fluentes em inglês…) não têm nenhuma chance de serem reais.
Embora não seja possível emitir palpites válidos acerca de detalhes morfológicos específicos, podemos, sim, amparados nos conhecimentos científicos atualmente disponíveis, tecer considerações bastante plausíveis sobre a estrutura geral básica de organismos alienígenas eventualmente inteligentes, dotados de autoconsciência, e da capacidade de construir civilizações tecnológicas.
Bioquímica
Primeiro aspecto: “eles” devem ser formas de vida baseadas em átomos de carbono. Ou, pelo menos, ET’s de carbono devem ser dez vezes mais frequentes que ET’s de silício, a julgar pela proporção das abundâncias cósmicas relativas daqueles dois elementos químicos. Ademais, seres vivos à base de silício, embora não rigorosamente
impossíveis, necessitariam viver em ambientes com temperaturas muito altas, bem acima dos pontos de fusão da maioria dos metais e semi-condutores, indispensáveis para a construção de uma tecnologia avançada. Então, sociedades tecnológicas avançadas construídas por seres inteligentes de silício seria outro absurdo.
Segundo, como a inteligência natural requer complexidade orgânica, devem ser criaturas multicelulares dotadas de um grau considerável de diferenciação histológica, a qual permitiria o aparecimento de órgãos especializados com funções bem determinadas.
Do ponto de vista das células, caso vivam em temperaturas semelhantes a aquelas as quais estamos acostumados, muito provavelmente vão empregar água líquida como solvente celular. Alternativas como a amônia, ou o metano em estado líquido só seriam viáveis em regimes térmicos muito frios. Solventes líquidos oferecem mais vantagens em relação ao emprego de solventes gasosos.
A vida na Terra usa apenas vinte aminoácidos. Mas podem existir milhares deles. E ainda temos a questão da quiralidade (moléculas levógeras, ou dextrógeras). Sabemos que as moléculas envolvidas com a vida na Terra são homoquirais, ou seja, só exibem um tipo de quiralidade, no caso a variedade levógera. Parece que a origem da homoquiralidade é intrínseca à origem da própria vida, conforme destaca
o professor José Augusto R. Rodrigues, do Instituto de Química da Universidade de Campinas [2010, Quim. Nova, 33, (5)]. A preferência por uma variedade quiral em detrimento da outra é conhecida como quebra de simetria da quiralidade. A razão para a sua existência ainda é um enigma.
Genética
Aqui vem mais uma dúvida: ET’s à base de carbono possuiriam DNA? A pergunta é análoga à questão de se uma molécula de ácido desoxirribonucleico constitui a única alternativa em termos de arquitetura molecular disponível ou apropriada para o armazenamento do tipo de informação que encontramos em um código genético.
A resposta mais provável pode ser não. A dupla hélice do DNA é compartilhada por todas as formas de vida terrestres, sem exceção, mas não precisaria ser compartilhada por ET’s. Aliás, a estrutura helicoidal da molécula de DNA dá o que pensar: haveria sido realmente obra do acaso, ou resultado de um projeto intencional de bio-engenharia, orquestrado por uma civilização avançada comprometida com a semeadura biótica de mundos através do cosmos? Caso a segunda alternativa seja verdadeira,
então não seria absurdo pensar que pelo menos uma parte do universo de entidades biológicas extraterrestres também possuísse DNA.
Existe aqui uma conexão profunda com a bioquímica. Uma molécula de DNA apresenta quatro tipos de bases nitrogenadas: a adenina, a timina, a citosina, e a guanina. Nas moléculas de ácido ribonucleico (RNA) encontramos uma quinta espécie: a uracila, que substitui a timina. Eventualmente, um ser extraterrestre poderia possuir DNA, ou não. No caso positivo, o DNA ainda poderia incluir outras variedades de bases nitrogenadas.
Em resumo: até aqui podemos dizer que uma entidade biológica extraterrestre inteligente autoconsciente com capacidade para construir tecnologia seria um ser vivo pluricelular à base de carbono. Detalhes sobre se possuiria ou não DNA, se empregaria as mesmas bases nitrogenadas ou não, os mesmos aminoácidos ou não, se as suas moléculas orgânicas apresentariam algum tipo de homoquiralidade dominante ou não, ainda são desconhecidos. Nada sabemos a respeito.
Só outra coisa é certa: por se tratarem de espécies biológicas diferentes da nossa, qualquer tentativa de hibridização ou mesmo cruzamento visando obtenção de prole fértil afigurar-se-ia impossível.
Assim, os relatos de mulheres que se dizem abduzidas, supostamente inseminadas por alienígenas, ou de homens que afirmam haver mantido relações sexuais com fêmeas de ET’s, além de irreais são ridículos.
Morfologia, Inteligência e Comportamento
Podemos inferir mais algumas características fundamentais inerentes a eventuais seres extraterrestres avançados. Por exemplo, seus tamanhos, em ordens de grandeza, estariam entre 1 metro e 10 metros. Organismos muito maiores que 10 metros, ou menores que 1 metro, apresentariam desvantagens funcionais importantes, capazes de comprometer seus níveis de inteligência, agilidade e capacidade de processamento de dados.
Mobilidade também seria preferível, em comparação com organismos sésseis. Esqueletos e/ou exoesqueletos seriam necessários para facilitar tanto a mobilidade quanto a sustentação corpórea na presença da gravidade. Portanto, estaríamos falando de seres vertebrados.
A presença de inteligência demandaria a existência de algum tipo de unidade central de processamento de estímulos e informações, uma CPU, ou “cérebro”. Para captar aquelas informações e estímulos, para se
deslocar, e para manipular coisas, eles também precisariam de apêndices ou órgãos sensoriais, locomotores, e manipuladores conectados ao cérebro por meio de uma complexa rede neural convergente, ou qualquer coisa equivalente a isso.
Simetria corporal também parece desejável, embora não seja absolutamente essencial. Na Terra, a maioria dos seres vivos exibe corpos com algum tipo de simetria, com raras exceções.
Por fim, eles teriam que ser criaturas habitantes de terra firme ou, no máximo, anfíbios, porque viver exclusivamente debaixo d’água ou outro líquido não permitiria o domínio do fogo, base mais fundamental de toda a tecnologia.
E para incrementar suas chances de sobrevivência como civilização tecnológica, um elevado grau de atitude social cooperativa e solidária resultaria altamente benéfico. Portanto, eventuais seres extraterrestres visitantes do nosso planeta além de nem remotamente se parecerem externamente conosco, provavelmente exibiriam também um comportamento no mínimo metasocial ou, melhor ainda, eusocial, assim como uma sociedade de insetos himenópteros, como vespas, abelhas ou formigas.
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* Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e membro fundador da Associação para Investigação de Fenômenos Incomuns (AIFI), entidade atualmente coligada à Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
(www.luizaugustoldasilva.com)
20240822