Curiosidades

A CAUDA DE MERCÚRIO

Luiz Augusto L. da Silva*

Crédito da imagem: © Sebastian Voltmer.

            Será que a imagem acima retrata algum cometa brilhante, talvez recém descoberto, ou mesmo algum conhecido há mais tempo que conseguiu inscrever seu nome no hall da fama dos astros com cabeleira? Negativo. Trata-se de Mercúrio, o planeta do sistema solar situado mais próximo ao Sol.

Viagem no Tempo

            Nos idos de 1974-75 a sonda espacial não tripulada Mariner-10, lançada pela NASA, realizou o primeiro sobrevoo nas imediações do planeta Mercúrio. Além de descobrir que a sua superfície era bastante parecida com a da Lua, crivada de crateras, a Mariner assinalou a existência de uma atmosfera muito rarefeita, constituída de sódio e outros elementos, continuamente perdida para o espaço. As partículas eram arrancadas da superfície do planeta por impactos de micrometeoritos, e pela pressão exercida pelo vento e pela luz solar.

            Uma década mais tarde, W.-H. Ip (1986, Geophysical Research Letters, 13, 423) especulou que Mercúrio deveria possuir uma cauda de íons de sódio soprada na direção anti-solar, da mesma maneira que acontece com as caudas gasosas dos cometas. Sua previsão foi confirmada em 2001 (Potter A., Killen R. M., Morgan, T. H., Meteoritics & Planetary Science, 37, 1165). A espaçonave norte-americana Messenger investigou melhor aquela estrutura entre 2011 e 2015, enquanto orbitava o planeta.

            A cauda de Mercúrio pode ser imageada com câmeras de preferência equipadas com um filtro  sensível à luz emitida pelos íons de sódio no comprimento de onda de 589 nm. Esses íons espalham mais eficientemente a luz solar. A cauda fica mais brilhante quando Mercúrio está perto do Sol, ou seja, no periélio, e seu comprimento aparente é maior ao redor das máximas elongações, quando a linha de visada desde a Terra é tangente à órbita do planeta. Seu comprimento real chega a atingir impressionantes 24 milhões de quilômetros!

Lua

            Nosso satélite natural também possui uma cauda de sódio! A Terra a atravessa a cada Lua Nova. A cauda lunar mede mais de um milhão de quilômetros, e foi descoberta em 1998 (Smith et al., 1999, Geophysical Research Letters, 26, 1649). É formada por átomos de baixa velocidade que escapam com facilidade para o espaço em virtude da fraca gravidade lunar, liberados a partir do regolito, misturados a partículas de maior velocidade, arrancadas pelo bombardeio  da superfície por parte do vento solar e impactos de meteoroides. São basicamente os mesmos processos que atuam na superfície de Mercúrio, mais uma semelhança entre ele e o nosso satélite. Lá, a gravidade mais intensa exige um empurrãozinho maior para lançar as partículas em direção ao espaço, neste caso fornecido através do efeito de pressão mecânica da radiação solar.

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Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e desde 1973 tem interesse preferencial por astros que exibem caudas.

 (www.luizaugustoldasilva.com)

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