Luiz Augusto L. da Silva*
Em tempos de catástrofes climáticas e eventos meteorológicos severos cada vez mais comuns, é importante dispor de uma boa previsão do tempo. Com um pouco de prática e conhecimento, você mesmo pode fazer a sua. A qualquer hora e em qualquer lugar. Com confiabilidade.
É o que pretendemos mostrar aqui. Claro que não existe uma receita única. A que apresentaremos a seguir é aquela normalmente utilizada pelo autor.
Seja para o planejamento de observações astronômicas, realização de saídas a campo, viagens e deslocamentos, atividades ao ar livre, ou mesmo porque você reside numa região distante, rural, ou com potencial de risco, medidas de prevenção adotadas com antecedência conveniente a partir de previsões meteorológicas precisas revelam-se valiosas, podendo evitar ou minimizar desastres, além de perdas materiais e de vidas.
Roteiro
ETAPA UM: IMAGENS DE SATÉLITE
A primeira coisa que costumo consultar são as imagens de satélite disponibilizadas no site do Centro de Previsão de Tempo e Clima (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos, em São Paulo. A Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA) daquela instituição, proporciona imagens do satélite GOES 16 em comprimentos de onda ópticos e infravermelhos. Na janela óptica existem imagens em cores naturais, tons de cinza, e dois tons (verde e branco), chamadas de Colorful. As imagens infravermelhas cobrem os comprimentos de onda de 3.90 μm, 6.95 μm, e 10.35 μm, sendo apresentadas com reforços de cores falsas que servem para indicar a intensidade da precipitação pluvial. Há também recursos de zoom e de animação das imagens.
A simples inspeção visual das imagens permite avaliar a presença, posição, e eventual proximidade de sistemas meteorológicos tais como frentes frias, frentes quentes, áreas de instabilidade, ciclones e anticiclones. Nestas imagens, massas de ar frio aparecem esbranquiçadas, enquanto o ar quente se revela escuro. Nuvens aparecem brancas, sendo as mais destacadas também as mais altas e espessas, normalmente vinculadas à atividade eventual de células de tempestades. O recurso de animação das imagens disponíveis em sequência formando um loop permite avaliar as tendências de deslocamento dos diferentes sistemas. Os horários de todas as imagens são fornecidos em GMT (horário de Brasília + 3 horas).
ETAPA DOIS: TEMPESTADES
A checagem da existência de tempestades na área é o segundo passo. Para tanto, consulto o site meteorológico suíço Meteologix (https://meteologix.com/br/lightning). Aqui é possível verificar a presença, posição e distanciamento de células de tempestade mediante o rastreio da distribuição geográfica das descargas elétricas (relâmpagos e raios) em qualquer região do mundo, praticamente em tempo real (delay de 5 a 10 minutos), com recurso de zoom. Também é possível selecionar as descargas elétricas por “idade” ou seja, das mais recentes às mais antigas. Elas são plotadas com cores diferentes (as antigas mais escuras). Isto permite obter uma boa ideia da direção e até da velocidade de deslocamento das tempestades associadas. Células de tempestades em geral se deslocam com velocidades entre 50 km/h e 100 km/h, então com uma estimativa da distância até o ponto onde se encontra o observador pode-se fazer uma previsão, ainda que grosseira, do intervalo de tempo provável até a chegada de uma tempestade.
Se você possui alguma familiaridade com a identificação das diferentes espécies de nuvens pode também avaliar o risco de tempestade para a sua posição geográfica, utilizando a escala desenvolvida no início dos anos 2000 pelo autor. Ela vai desde 0 até 7, conforme segue:
NÍVEL DESCRIÇÃO OBS.
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0 Céu totalmente sem nuvens Risco de tempestade:
ou com Cu fra e/ou Cu hum zero
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1 Qualquer outro tipo de nuvens,
exceto Cumulonimbus (Cb)
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2 Presença de Cu med ou Cu con Início de convecção
apreciável
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3 Cb cal, Cb cap, ou Cb inc visíveis
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4 Céu predominantemente Tempestade provável
encoberto, com um ou mais setores dentro de 1h – 2h
escuros junto à linha do horizonte
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5 Ocorrência de descargas elétricas Tempestade próxima
e/ou trovoadas
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6 Aproximação de uma “nave mãe” Tempestade imediata,
situação com potencial
de alto risco
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7 Situação caótica generalizada Situação igualmente
pós-passagem de uma tempestade muito perigosa
severa
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Para uma descrição pormenorizada e imagens ilustrativas, bem como para conhecer todos os tipos e sub-tipos de formações de nuvens reconhecidos oficialmente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), adquira a obra bi-língue (inglês/português) A Personal Atlas of Clouds and Atmospheric Optics. Saiba mais em www.redeomegacentauri.org/loja virtual, e assistindo também à Oficina de Astronomia® 443, disponível no canal da Rede Omega Centauri no YouTube. A Rede também oferece uma cartela colorida com imagens, que fornece um guia rápido e conveniente para uso da classificação de risco de tempestades exposta acima. Mais informações na loja virtual do site.
ETAPA TRÊS: CARTA SINÓTICA
Muito embora um observador dotado de certa experiência consiga obter uma boa ideia acerca da configuração sinótica vigente na sua região geográfica simplesmente inspecionando visualmente imagens de satélite, não resta dúvida de que uma interpretação precisa daquelas imagens, por exemplo, enriquecida com isóbaras e valores de leituras da pressão atmosférica representa uma complementação importante. Para acessar a carta sinótica da minha área recorro ao site do Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil (www.marinha.mil.br) No item Serviço Meteorológico Marinho/Cartas Sinóticas é possível visualizar e baixar sempre a versão mais recente da Carta de Pressão ao Nível do Mar, onde além das isóbaras (linhas que unem pontos com valores iguais de pressão atmosférica) constam as indicações das pressões dos núcleos de ciclones e anticiclones, além do posicionamento de sistemas frontais, cobrindo toda a região da América do Sul e do Oceano Atlântico.
RECURSOS COMPLEMENTARES
Após executar as etapas de um a três descritas acima, recomendo ainda acessar o site da empresa Metsul Meteorologia, fundada pelo meteorologista gaúcho Eugênio Hackbart (1937 – 2020). A empresa oferece um serviço por assinatura onde é possível ter acesso a mapas, prognósticos de modelos numéricos, alertas meteorológicos, informações exclusivas, e muito mais, além de notícias e previsões de livre acesso. Confira em https://metsul.com. Esta recomendação é válida especialmente para se conhecer a tendência da evolução do quadro meteorológico para um prazo mais dilatado de tempo, vários dias ou uma semana, por exemplo.
O site windy.com também oferece uma montanha de informações sobre os mais variados parâmetros meteorológicos e atmosféricos extremamente úteis, e de livre acesso.
Também indico alguns aplicativos para smartphones. Em meu aparelho possuo instalados o Solar Weather além do Clima & Radar, e outro que apresenta leituras em tempo real da pressão atmosférica na sua posição (Barometer). Todos podem ser baixados na loja virtual do Google (Google Play), no caso de dispositivos que utilizam o sistema operacional Android.
Esteja Preparado
É sempre recomendável possuir um kit de sobrevivência e primeiros socorros ao alcance da mão em sua casa, e também em seu veículo. Esta prática é usual entre cidadãos norte-americanos e canadenses, mas infelizmente não é muito difundida aqui no Brasil.
Como resido em área rural, além de viajar com frequência, mantenho diversos kits de suporte de emergência permanentemente disponíveis em minhas residências, e também em meus veículos.
Em casa, possuo estojos contendo itens de primeiros socorros, lanterna, pilhas, luvas de borracha, capa de chuva, lista de telefones de emergência, artigos de higiene pessoal, velas, fósforos, etc.
O equipamento padrão incorporado a bordo da minha pickup inclui um kit médico avançado com cerca de 120 itens, três caixas contendo centenas de ferramentas, uma dúzia de lanternas, incluindo um holofote
muito potente, equipamentos de sinalização, água potável, reserva de combustível, um kit de cozinha com alimentos não perecíveis (usualmente biscoitos e barras de cereais), nécessaire com artigos de higiene pessoal, um jogo de mapas (útil na hipótese de colapso do sistema GPS), cordas, cinta de reboque, pá, machado, picareta, lona impermeável, kit para reparo de pneus, além de rádio transceptor, bússola, facas, binóculo, escritório portátil, colete salva-vidas, guincho elétrico e faroletes extras, e outros itens de utilidade em situações de sobrevivência em emergências, como mudas de roupas, toalhas, cobertor, saco de dormir, casacos e acessórios para frio intenso. É claro que você não precisa levar tudo isso, mas aconselho que pense seriamente em compor dois kits básicos com itens essenciais, um em sua casa, outro em seu carro, de preferência acondicionados em mochilas, para maior praticidade. Existem diversos sites na Internet que ensinam a prepará-los. E muitos kits completos, estão disponíveis para aquisição.
Previna-se, e viva mais tranquilo. Não se esqueça que vivemos numa região que se comporta como um eterno teatro de guerra meteorológica. E o aquecimento global está tornando tudo ainda mais difícil e perigoso. Haja vista a enorme tragédia que estamos enfrentando nesse exato momento. Ademais, existem inúmeros outros fatores, antropogênicos ou não, que podem induzir colapsos importantes da civilização praticamente a qualquer momento. Um bom kit de sobrevivência pode fazer uma grande diferença, enquanto uma vítima aguarda pela chegada do socorro. Pensem nisso.
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* Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo e há 50 anos, desde 1973, também se interessa por meteorologia, óptica atmosférica, e prevenção de acidentes.
20240507