Luiz Augusto L. da Silva *
Não estou escrevendo ficção científica. Trata-se dos limites palpáveis da ciência. Teórica e experimental. Se não nos autodestruirmos num futuro próximo (isso, sim, parece ficção…) poderíamos alcançar uma das maiores conquistas de todos os tempos: driblar a morte, e viver quanto tempo quisermos, sem limites, ou restrições.
Neste sentido, o leque de alternativas que já começa a se esboçar, migrando rapidamente do campo da fantasia para o da realidade, é impressionante – e vasto.
Quando um ser vivo morre, sua mente estará irremediavelmente perdida após 4 ou 5 minutos. Devido à falta de oxigênio no cérebro, os neurônios também morrem. E rápido.
Mas num futuro não tão distante, a seguinte situação poderá ser factível. Suponha que você está prestes a perder um ente querido. Sua perda é previsível, inevitável, e iminente. O que se poderia fazer?
A primeira e mais importante tarefa seria providenciar um backup da sua mente, um arquivo que contenha a totalidade das lembranças, do aprendizado, do conhecimento, das vivências, sentimentos e emoções daquela pessoa. Basicamente estamos falando de salvar dados e algoritmos. Num primeiro momento, estas informações poderiam ser preservadas em um disco rígido de computador.
Em se tratando de um ser vivo inteligente auto-consciente, a mente e seu conteúdo representam os componentes mais importantes e essenciais, consistindo na personalidade, o eu propriamente dito. A sua preservação equivaleria a salvaguardar a quase totalidade relevante daquele ser vivo.
Porém, como alguém já afirmou, continuar vivendo agora dentro de um computador poderia ser pior do que estar morto. Faltaria o contato físico com os familiares e amigos, sem mencionar os sentidos e outras emoções. E aqui surgem novas possibilidades. Por exemplo, injetar a mente copiada num novo corpo artificial, não biológico, um androide que eventualmente poderia ser construído tão perfeito quanto um ser humano de carne e osso, idêntico ao original que acaba de entrar em óbito, e indistinguível dos seus demais semelhantes vivos.
Comparada à alternativa de encarar a continuação da vida e da consciência dentro de um computador, aquela talvez seja a opção mais garantida e segura. Pensem bem: um corpo artificial seria imune à ameaças biológicas como doenças, não envelheceria, e poderia receber manutenção permanente sempre que necessário. Seu tempo de vida seria ilimitado. E sua funcionalidade plena também.
Uma opção menos inteligente, muito mais complicada, seria clonar o indivíduo original, e depois introduzir no novo cérebro a mente copiada do organismo original. Além de mais difícil, não ficaríamos livres de doenças, eventualmente envelheceríamos, e teríamos que enfrentar uma segunda morte no futuro. Pior ainda: a personalidade de um clone seria fortemente influenciada pelas novas condições sócio-ambientais a serem experimentadas, e poderíamos descobrir, com grande decepção, que nosso ente querido ressuscitado não seria igual ao que morreu. Tipo assim: um clone de Albert Einstein poderia acabar sendo campeão de beisebol, ao invés de novamente um físico notável.
Seja como for, a ciência moderna já está desenvolvendo as estratégias necessárias para viabilizar as possibilidades aparentemente fantásticas que discutimos acima. Backups mentais, técnicas avançadas de clonagem e de retardamento do envelhecimento, aperfeiçoamento de robôs-androides e de corpos e órgãos artificiais, são linhas de pesquisas ativas neste exato momento. E poderá chegar o dia em que tudo isso vire realidade. Quem viver, verá.
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* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
www.luizaugustoldasilva.com
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20231014