Opinião

DEVOÇÃO AO DINHEIRO, CAMINHO PARA A SEPULTURA

Luiz Augusto L. da Silva *

            A recente indicação do sultão Ahmed al-Jaber, chefe da empresa petrolífera dos Emirados Árabes Unidos para o cargo de presidente da próxima conferência anual do clima da ONU, a COP 28, prevista para acontecer no final de 2023 naquele país do Golfo Pérsico, é um exemplo flagrante da devoção fanática do Homo “sapiens” ao deus maior inventado por ele: o Dinheiro.

            Mesmo com a corda no pescoço, continuamos ferrenhamente atrelados a um meme chamado Lucro. O que importa é faturar cada vez mais. E sempre. Ainda que isto comprometa nosso futuro, e nossa própria existência. Não importa.

Motor

            Há dez mil anos, a ganância tem sido o princípio que move o carro-chefe da civilização humana. E por dez mil anos ela também vem abrindo a cova que servirá de jazigo para a sociedade tecnológica predatória construída neste planeta. Nos últimos séculos, este processo vem se acelerando, e não há nenhum indício consistente de que a situação possa ser revertida.

            Aliás, uma tal reversão só seria possível com uma mudança de paradigma fundamental tão profunda, radical e repentina, que não existe praticamente chance alguma dela se tornar realidade, soando estridente como exemplo autêntico da mais delirante das utopias.

            O câncer em que se constitui a maior religião global, conhecida como Capitalismo, continua a ditar as regras e a reger o mundo com crescente autoridade voraz. Uma de suas mais sinistras metástases é o processo de alienação e imbecilização em massa que assistimos hoje, e que tem como objetivos entorpecer a consciência racional, ao mesmo tempo em que amortece o senso crítico, transformando pessoas em autômatos de cabeças vazias, escravos perfeitos de um regime de ditadura digital cada vez mais impregnado na vida de todos. Basta ver as propagandas que nos bombardeiam todos os dias através dos mais diversos veículos da mídia, mostrando pessoas sorridentes e deslumbradas com seus tamagotchis, consumindo todo tipo de porcarias e frivolidades, correndo sôfregas atrás de ofertas e saldões mirabolantes, enquanto sonham com a aquisição de um reluzente carro do ano oferecido de barbada. Afinal, o modelo deste ano tem sinaleiras redondas, no do ano passado elas eram quadradas…

            A preservação do meio ambiente e da biodiversidade, o aquecimento global, as guerras, a fome, a miséria, as pesquisas científicas, a educação, a cultura, e a vida simples em harmonia e integração com a natureza, ficam todos colocados de joelhos perante a arrogância suprema e doentia do sistema suicida.

Direto ao Ponto

            A verdade é bem simples: COP’s são inócuas, legítimas perdas de tempo. O efeito estufa e as mudanças climáticas provocados pela atividade tecnológica humana não existiriam, se não houvessem conceitos como dinheiro, ganância, lucro e dívidas, sem falar de uma moléstia grave conhecida como Economia.

            Por condicionamento genético, agravado por falhas meméticas sérias e seculares, estamos nos afundando num poço sem volta, bem ao estilo fatal do modelo proposto em nossa pesquisa exobiológica publicada recentemente, o cenário do gargalo tampado, provavelmente predominante no curso das trajetórias evolutivas astrosociológicas no Universo.

            Para nós, o fim do túnel está próximo e, se ainda enxergamos uma luz nele, é daquela que ilumina a placa anunciando Sem Saída.

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* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.

www.luizaugustoldasilva.com

20230114

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