Luiz Augusto L. da Silva *
A pandemia associada com o coronavírus está se revelando muito mais complexa e assustadora do que muitos pensaram no início. Com o surgimento da variante Ômicron, identificada no final de novembro de 2021 na África do Sul, o recrudescimento mundial da doença vem se revelando explosivo, surpreendendo os epidemiologistas.
No alvorecer do terceiro ano da pandemia, o coronavírus dá a volta por cima, associando-se à cepa Darwin do vírus da gripe, recolocando a humanidade na estaca zero. Este pesadelo terá fim? Talvez a resposta possa ser negativa.
Pensem bem: enquanto existirem negacionistas das vacinas, e um continente africano sub-vacinado, haverá muito espaço livre para abrigar novas mutações do vírus. Com o passar do tempo, maiores serão as chances do aparecimento de novas cepas agressivas, bem como a probabilidade de as vacinas disponíveis se tornarem ineficientes.
África
Vacinar a totalidade do continente africano será uma tarefa hercúlea. Ainda mais com três doses. A maioria das suas nações é pobre, e não dispõe de recursos logísticos suficientes para fazer as vacinas chegarem nas regiões mais remotas com eficiência, mesmo no caso do recebimento de generosíssimas doações de quantidades suficientes de imunizantes, prometidos pelos países mais ricos. Uma promessa, aliás, até agora cumprida muito aquém do anunciado.
E seria imperativo agir com extraordinária celeridade, pois a taxa de mutações do coronavírus é demasiadamente alta. Em apenas dois anos, diversas variantes já se destacaram: alfa, beta, gama, delta, lambda, mu, e, mais recentemente, ômicron e a IHU. Pelo menos três delas (beta, ômicron, e IHU) surgiram, ao que tudo indica, em países africanos, como a África do Sul, Camarões, e a República do Congo. Se demorarmos muito, esgotaremos o alfabeto grego.
Negacionismo
Cada variante nova do coronavírus que surge, tira partido da propensão nata do Homo “sapiens” de se aglomerar com outros indivíduos da sua espécie. E entre eles, aqueles que se recusam a ser vacinados, constituem excelentes vetores para a transmissão comunitária do vírus. Enquanto vicejar a burrice do negacionismo, teremos outra dimensão disponível para a proliferação de novas cepas virais, capazes de assegurar a continuidade da pandemia.
Perdas
Dentro do contexto do jogo insano da Economia, inventado pela mente doentia e gananciosa dos “sapiens“, a prorrogação do estado pandêmico acarretará de forma inexorável enormes danos à estrutura da civilização globalizada, que poderão vir a precipitar o seu colapso.
Nesta perspectiva, nem vamos falar das concomitantes mudanças climáticas – alarmantes – que vêm se antecipando às previsões mais pessimistas, nem dos incêndios, dos desmatamentos, do comprometimento dos oceanos e dos escassos mananciais de água potável disponíveis no planeta, do sexto episódio de extinção de espécies biológicas em massa, do sétimo continente, e dos riscos cada vez maiores da falência tecnológica da Internet. Acrescente-se, ainda, a ameaça de um conflito nuclear global, acidental ou propositalmente provocado, que ainda hoje paira feito nuvem negra sobre o formigueiro humano.
Bem vindos ao gargalo. Estamos assistindo ao princípio do fim, sentados na primeira fila ou – muito pior – contracenando no palco, em meio a um grande espetáculo trágico, enquanto insistimos na idolatria de deuses, ouro e prata, pedras “preciosas” e aberrações ainda piores tais como dinheiro e lucro, num atestado pleno de irracionalidade absoluta.
Ao mesmo tempo, pelos quatro cantos do planeta, incentivadas pelo sistema, legiões de incontáveis indivíduos alienados unem-se a hordas de imbecis para festejar a virada do ano, com o espocar de fogos de artifício em shows mirabolantes de pirotecnia, regados a goles de champanhe. Sinceramente: comemorar o quê?!
* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
www.luizaugustoldasilva.com
20220106