Crônicas

INTELIGÊNCIA EXTRATERRESTRE: PONTO E CONTRAPONTO

Luiz Augusto L. da Silva*

            A Via Lactea pode estar infestada de planetas habitados. Mas civilizações tecnológicas poderiam ser raríssimas. Considere os seguintes fatos:

FATO No. 1: Você sai para jantar em um restaurante sábado à noite e não vê nenhum ET comendo na mesa ao lado da sua;

FATO No. 2: A idade astrobiologicamente útil da nossa galáxia é 10 Giga-anos;

FATO No. 3: Qualquer civilização com domínio da tecnologia de voo espacial poderia se expandir de uma ponta à outra da Galáxia com velocidade não relativística em pouco mais de um milhão de anos, o que representa apenas 1% da idade galáctica.

            Aí você pergunta: “Onde estão eles?!” E então conclui: “Provavelmente não existem. Estamos sós…”. O físico norte-americano de origem italiana Enrico Fermi (1901 – 1954) já havia se dado conta disso durante um almoço com seus colegas no Laboratório Nacional Los Alamos, em 1950.

            A missão espacial KEPLER permitiu calcular em cerca de 40 bilhões o número provável de planetas muito semelhantes à Terra existentes em nossa Galáxia. Se estamos sozinhos, somos um caso em 40 bilhões. Ou seja, a probabilidade média do surgimento de civilizações tecnológicas na Via Lactea seria de apenas 10-11.

            Em nossa Oficina de Astronomia® número 442, disponível para visualização no canal Rede Omega Centauri, no Youtube, estimamos a taxa provável de formação de civilizações na Via Lactea como sendo de uma civilização por giga-ano.  Ora, se em 10 bilhões de anos a Galáxia ainda não foi colonizada, isto indica que a probabilidade de sobrevivência de civilizações tecnológicas é menor ou, no máximo, da ordem de 10%, um número nada animador. Ele implica, primeiro, que o próprio aparecimento da inteligência, longe de ser corriqueiro, é um acontecimento raro nas evoluções biológicas dos mundos. Dez bilhões de anos é um intervalo de tempo comparável à idade do Universo (13.7 Giga-anos).

            Se a probabilidade média de sobrevivência de uma civilização tecnológica for da ordem de apenas 1%, então o tempo necessário para a colonização de uma galáxia espiral como a nossa seria da ordem de dez vezes a idade atual do Universo! Ou seja, o cosmos ainda não seria velho o suficiente para que a Via Lactea abrigasse um império galáctico!

            Por quê a probabilidade de sobrevivência de civilizações seria tão baixa? Provavelmente porque, à medida que uma civilização evolui, tornando-se mais complexa, torna-se também mais vulnerável. Embora possa ficar relativamente mais imune à ameaças naturais externas, um sem número de fatores endógenos relacionados à própria civilização poderiam se encarregar de faze-la sucumbir, mais cedo ou mais tarde. Provavelmente muito cedo, na maioria dos casos. É provável que exista uma espécie de “gargalo” evolutivo na vida da maioria das civilizações tecnológicas, cuja superação seria muito difícil, terminando por abortar o curso de evolução da maioria das sociedades.

            Em mais de 70 anos, discos voadores não acrescentaram nada de cientificamente válido no tocante à presença de seres extraterrestres na Terra hoje. Muito pelo contrário: quando se examina a temática a fundo, percebe-se claramente a natureza humana e não extraterrestre da questão.

            Na radioastronomia, persiste o “Grande Silêncio”, isto é, a ausência de recepção positiva de sinais de rádio artificiais provenientes de outras possíveis civilizações extraterrestres, parecendo sugerir que, no mínimo, elas não existem em grandes quantidades. Esta conclusão torna-se ainda mais contundente, se lembrarmos do elevado número de exoplanetas que vem sendo descobertos nos últimos anos (calcula-se um planeta, em média, para cada estrela da Galáxia). Isto, por sua vez, também sugere que o aparecimento fortuito da inteligência autoconsciente não é uma clara vantagem evolutiva universal, desfavorescendo a ocorrência de episódios similares, ou de “evolução convergente”, em outros planetas habitáveis.

            Argumentar que os extraterrestres não seriam imbuídos de espírito expansionista e colonizador, ou que eles nos mantém, propositalmente, dentro de um “cordão de isolamento”, evitando fazer contato conosco até algum possível “momento adequado” no futuro, são ideias insustentáveis, tanto em um cenário pluralista (ou seja, de muitas civilizações co-existentes numa mesma galáxia) quanto num cenário singularista (uma única civilização, ou um número extremamente reduzido delas). No primeiro caso, custa crer que, entre tantas civilizações, nenhuma em 10 giga-anos pensou seriamente em colonizar a Galáxia. No segundo, por causa da mesma idade: mesmo com pouquíssimos vizinhos, alguém já teria aberto a porta da nossa jaula…

            Tais conclusões não representam, necessariamente, uma invalidação do Princípio da Humildade, aquele que declara, basicamente, que tudo o que acontece e aconteceu por aqui deve ser típico do resto do Universo. Ao contrário, constitui uma reafirmação dele. Somos raros, portanto o normal é constatar que a nossa galáxia ainda não foi ocupada, em nenhum momento ao longo do seu vasto tempo de existência.


* Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, com interesse atual na área de astrobiologia. Preside o Conselho Curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica. Seus primeiros estudos de Astronomia remontam a 1973.

20211207

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