Luiz Augusto L. da Silva *
De maneira geral, a Educação e o Ensino a nível mundial enfrentam séria crise, com exceções pontuais, representadas por meia dúzia de países, entre eles Finlândia, Coréia do Sul e Nova Zelândia. No Brasil esta crise – sem precedentes – assume dimensões gravíssimas, sintomáticas de um retrocesso escandaloso.
Com o aval das autoridades, reformas priorizam o empobrecimento curricular, esvaziando sistematicamente conteúdos, e eliminando ou reduzindo cargas horárias de disciplinas fundamentais, enquanto valorizam modelos duvidosos tais como escolas de estilo militar. O sistema vigente consegue minar por completo a curiosidade e a vontade de aprender dos estudantes, realizando neles profunda castração intelectual e crítica, ao mesmo tempo em que transforma a progressão de anos e semestres letivos em competições onde conhecimento não conta e tudo o que vale é por as mãos a qualquer custo em um canudo de papel no horizonte da linha de chegada da formatura.
Jogadores de futebol – trogloditas ignorantes e mal educados – com frequência dão maus exemplos, mas desfrutam de rendimentos astronômicos. Já os professores são humilhados, recebendo salários ridículos, indo parar no SERASA. Obrigados a suportar cargas horárias excessivas, transformados em máquinas de dar aula, sem tempo para descanso, reflexões, aperfeiçoamentos, atividades de extensão ou pesquisa.
Pesquisa? Neste campo, o último absurdo inominável é o corte de 87% das verbas destinadas ao financiamento de pesquisas científicas, anunciado pelo governo federal obscurantista, corrupto, genocida e absolutamente incompetente. Simpatizante de paraísos fiscais, e que chega ao cúmulo de afirmar que “no Brasil existem professores demais”…
Mercantilismo
Ver o velho armazém da esquina ser transformado em pólo de ensino à distância de alguma universidade desconhecida seria estupendo, não fosse pela verdadeira razão disto estar acontecendo. Infelizmente não se trata de uma autêntica e desinteressada difusão democrática de conhecimento acadêmico em massa visando substituir secos e molhados por cultura e erudição, mas da proliferação de uma estratégia capitalista selvagem que visa lucrar com o produto Educação, no fundo não dando a mínima para a qualidade do ensino. Apenas pague, e seu objetivo maior – o diploma – estará garantido. Tudo o que importa é o dinheiro. De quem supostamente estuda, e de quem finge que ensina.
Na luta cada vez mais insana pela sobrevivência lucrativa, o espaço destinado à competência, ao saber, e à expertise é com facilidade preenchido por cédulas. E em meio a tudo isso, bibliotecas públicas botam livros no lixo, e legiões de mestres competentes, com décadas de excelência na docência, são simplesmente atiradas ao olho da rua, da noite para o dia, sem nenhuma perspectiva de readmissão. Na contramão dos países desenvolvidos, condena-se educadores em seus melhores momentos, bem como suas famílias, à miséria e ao desprezo, abortando carreiras brilhantes, ao mesmo tempo em que se priva a população discente do que haveria de melhor em matéria de transmissão de conhecimento.
Instituições de ensino que praticam políticas como estas, sejam de ensino fundamental, médio, ou superior, não têm o direito de se auto-intitularem Escolas, ou Universidades. Não passam de empresas. Gostem ou não, o conceito de empresa é incompatível com o substantivo Educação.
* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.
www.luizaugustoldasilva.com
20211014