Dez mil dezembros atrás, numa época em que os humanos do hemisfério norte migravam lentamente da caça para agricultura, a noite mais longa do ano era celebrada. Dessa madrugada em diante, as tribos sabiam que a principal fonte de energia, em forma de luz e calor, permaneceria cada vez mais tempo no céu, até atingir seu auge no verão, meio ano depois. Habitantes de todos os cantos daquele lado do globo festejavam o “renascimento” do Sol, e havia um motivo prático para tanta alegria: dias mais longos significavam boas colheitas.
Como o nosso planeta gira inclinado em relação ao Sol, a quantidade de tempo que cada lado da Terra fica exposto à sua radiação depende da posição em que ela se encontra na sua órbita. No mês de dezembro, o hemisfério Sul está mais inclinado para o Sol e por isso nossos dias são mais longos e aquecidos. Meio ano depois, ou seja, quando o planeta está no outro lado da órbita, é a vez do hemisfério Norte ficar de frente pra nossa estrela mais próxima.
Meio milênio antes do suposto nascimento de Jesus, no final de dezembro, Roma cultuava Mitra, o deus da luz, em referência ao Sol. Essa tradição chegou à Europa através de Alexandre, o Grande, e festejava o velho solstício de inverno. Meia dúzia de séculos depois o historiador cristão Sextus Julius Africanus teve a ideia de aproveitar a data festiva e marcou o aniversário de Jesus no mesmo dia do nascimento de Mitra. Relacionar Jesus ao deus-sol faria com que este assumisse a forma da luz que traria a salvação para a humanidade.
Do mesopotâmico Osíris ao grego Dionísio, do Yin-Yang chinês à britânica Stonehenge, do Yule nórdico à Mitra (e depois Jesus) romano… Por trás dessas celebrações há um elemento astronômico em comum: o Sol! No momento em que as tribos notaram que o deus da luz e do calor movia-se de forma previsível pelo céu, foi que a agricultura se tornou produtiva. Celebrar o Sol é de certa forma, comemorar a prosperidade da nossa espécie neste mundo!