Luiz Augusto L. da Silva*
Em 12 de Outubro de 1992, nos 500 anos da “descoberta” da América por Cristóvão Colombo, a NASA inaugurou o mais ambicioso programa de busca por sinais de rádio interestelares emitidos por eventuais civilizações extraterrestres presentes em nossa Galáxia. Conhecido como MOP, sigla de Microwave Observing Project (Projeto de Observações em Microondas), ele foi cancelado no ano seguinte, com o corte total das verbas federais aprovado pelo congresso norte-americano, preocupado com o déficit orçamentário do governo, e em resposta as críticas de alguns setores da mídia e de políticos que questionavam a importância de procurar por “pequenos homens verdes”.
Naquele mesmo ano realizou-se a famosa e já esquecida ECO-92, primeira grande conferência mundial para discutir problemas globais referentes à crise do meio ambiente ocasionada pelas atividades humanas. Foi também quando o grande astrônomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014), certamente um dos maiores divulgadores da ciência em nosso país, lança seu livro Ecologia Cósmica, pela Editora Francisco Alves (Rio de Janeiro), onde contextualizava, muito bem por sinal, os problemas e ameaças enfrentados pela civilização terrestre, enquadrando-os dentro de uma moldura muito mais ampla, numa perspectiva de universo.
Dúvidas
Ainda hoje muitas pessoas torcem o nariz quando alguém fala de astrobiologia. Consideram-na uma ciência inútil, desprovida de aplicações e sem importância prática, um exercício acadêmico da mais pura perda de tempo.
Quais seriam, perguntam estes críticos, os benefícios concretos de decobrir que existem outros mundos habitados além do nosso? Ou de encontrar uma explicação válida para o paradoxo de Fermi? De que nos adiantaria saber se há planetas povoados por microorganismos ou, até mesmo, civilizações extraterrestres tecnológicas, se quase certamente nunca poderíamos estabelecer um contato viável com eles?
Perguntas como se existiriam alternativas ao DNA, em termos de arquiteturas moleculares autorreplicantes, se algum outro elemento, o silício, por exemplo, poderia substituir o carbono na química da vida, ou se haveria alternativas à água como solventes no metabolismo celular, parecem estar completamente desvinculadas das soluções dos graves problemas de todas as ordens que a civilização humana vem enfrentando na Terra hoje e que, cada vez mais, assumem dimensões ameaçadoras, com capacidade real de comprometer nossa sobrevivência no presente e no futuro.
A Conexão Cósmica
Pois, por incrível que pareça, a astrobiologia, com todo o seu caráter essencialmente multi e transdisciplinar, é das mais importantes dentre todas as ciências na construção do edifício do conhecimento humano. Diríamos, sem nenhuma pretensão de exagero, que a sua importância pode ser equiparada à da medicina, enquanto instrumento efetivo na hora de contribuir para uma melhoria real da nossa compreensão acerca da saúde e da expectativa de vida não de indivíduos isolados, mas de toda a sociedade planetária.
Precisamos, sim, saber se existe vida extraterrestre, e como ela funciona, se é ou não parecida com o que temos aqui na Terra, ou quais são suas possíveis variações. Precisamos, sim, saber se existem outras culturas inteligentes tecnológicas espalhadas pela Galáxia, se são muitas ou em número reduzido, se duram muito, perpetuando-se, talvez, por milhões de anos, ou se logo entram em colapso, extinguindo-se. Necessitamos, sim, esclarecer a importantíssima questão colocada pelo “paradoxo” de Fermi. Necessitamos, sim, descobrir se o aparecimento da inteligência é ou não é uma vantagem evolutiva real.
Falando francamente, alguma coisa muito séria está errada. Nossa Galáxia tem mais de 10 bilhões de anos e ainda não foi colonizada. Onde estão eles?! E não me venham com discos voadores… Talvez o Grande Silêncio esteja nos alertando para o perigo iminente da nossa própria destruição. Assim, investigações astrobiológicas poderão nos ensinar muitas coisas de importância capital para aumentarmos nossas chances de sucesso como civilização.
No tocante à questão da frequência de ocorrência de inteligências extraterrestres, quem está com a razão? Os pluralistas saganianos, ou os singularistas fermi-tiplerianos? Haverá uma terceira possibilidade? Seja como for, no primeiro caso, nossa possibilidade de sobrevivência poderia ser muito boa. No segundo, o futuro é mais incerto, apontando talvez para uma roleta russa entre vida e morte, dependendo de fatores tão diversos quanto a possível (ou não) vantagem evolutiva do aparecimento da inteligência, sorte, nossos graus de desenvolvimentos científico-tecnológico e ético-moral, e de como um desequilíbrio entre ambos, reflexo de condicionamentos genéticos, poderia ser retificado por meio de uma ferramenta importantíssima chamada Educação.
*Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e desde 1973 se preocupa com o estudo científico da possibilidade de existência de vida extraterrestre, em todas as suas possíveis dimensões.
(www.luizaugustoldasilva.com)