Efemérides Astronômicas

O CÉU DA PRIMAVERA 2020

OUTUBRO, NOVEMBRO E DEZEMBRO

OUTUBRO

DIA HORA(TL)* FENÔMENO
01 09h Mercúrio na máxima elongação (26°E) do Sol

18h05min Lua Cheia
02 20h Vênus em conjunção com Regulus a 0.1°S
03 00h Marte em conjunção com a Lua a 0.6°N


(ocultação rasante no sul do Brasil e Rio de Janeiro)

14h Lua no apogeu (406322 km da Terra)
04 07h Urano em conjunção com a Lua a 3°N
06 21h Aldebaran em conjunção com a Lua a 4°S
09 21h40min Lua Quarto Minguante
10 09h Pollux em conjunção com a Lua a 4°N
13 02h Regulus em conjunção com a Lua a 4°S

20h Marte em oposição ao Sol

22h Mercúrio estacionário

23h Vênus em conjunção com a Lua a 4°S
16 15h Spica em conjunção com a Lua a 6.5°S

16h31min Lua Nova (início da lunação 1210)

21h Lua no perigeu (356912 km da Terra)
19 18h Antares em conjunção com a Lua a 5.5°S
21 madrugada Máximo da chuva de meteoros Oriônidas
22 14h Júpiter em conjunção com a Lua a 2°N
23 01h Saturno em conjunção com a Lua a 2.5°N
23 10h23min Lua Quarto Crescente
25 15h Mercúrio em conjunção inferior com o Sol
27 06h Netuno em conjunção com a Lua a 4°N
29 15h Marte em conjunção com a Lua a 2.5°N
30 15h Lua no apogeu (406394 km da Terra)
31 11h Urano em conjunção com a Lua a 3°N

11h49min Lua Cheia (Lua Azul!)

12h Urano em oposição ao Sol

NOVEMBRO

DIA HORA(TL) FENÔMENO
03 03h Aldebaran em conjunção com a Lua a 4.5°S

07h Mercúrio estacionário
06 16h Pollux em conjunção com a Lua a 4°N
08 10h46min Lua Quarto Minguante
09 10h Regulus em conjunção com a Lua a 4.5°S
10 20h Mercúrio na máxima elongação (19°W) do Sol
12 20h Vênus em conjunção com a Lua a 3°S
13 04h Spica em conjunção com a Lua a 6.5°S

18h Mercúrio em conjunção com a Lua a 1.5°S
14 09h Lua no perigeu (357837 km da Terra)
15 02h07min Lua Nova (início da lunação 1211)

16h Marte estacionário
16 04h Antares em conjunção com a Lua a 5.5°S

16h Vênus em conjunção com Spica a 3.8°N
17 madrugada Máximo da chuva de meteoros Leônidas
19 06h Júpiter em conjunção com a Lua a 2.5°N

12h Saturno em conjunção com a Lua a 3°N
22 01h45min Lua Quarto Crescente
23 12h Netuno em conjunção com a Lua a 4°N
25 20h Marte em conjunção com a Lua a 4.5°N
26 21h Lua no apogeu (405894 km da Terra)
27 16h Urano em conjunção com a Lua a 3°N
29 05h Netuno estacionário
30 06h30min Lua Cheia (Eclipse Penumbral)

09h Aldebaran em conjunção com a Lua a 4.5°S

DEZEMBRO

DIA HORA(TL) FENÔMENO
03 21h Pollux em conjunção com a Lua a 4°N
06 16h Regulus em conjunção com a Lua a 4.5°S
07 21h37min Lua Quarto Minguante
08 03h Mercúrio em conjunção com Antares a 4.3°N
10 13h Spica em conjunção com a Lua a 6.5°S
12 17h Lua no perigeu (361773 km da Terra)


Vênus em conjunção com a Lua a 0.7°S
13 15h Antares em conjunção com a Lua a 5.5°S
14 madrugada Máximo da chuva de meteoros Gemínidas

07h Mercúrio em conjunção com a Lua a 1°S

13h17min Lua Nova (início da lunação 1212)


Eclipse solar total (visível no Chile e na Argentina)
17 02h Júpiter em conjunção com a Lua a 3°N

03h Saturno em conjunção com a Lua a 3°N
20 00h Mercúrio em conjunção superior com o Sol

20h Netuno em conjunção com a Lua a 4°N
21 07h02min Solstício de verão para o hemisfério sul

15h Júpiter em conjunção com Saturno a 0.1°S


(Conjunção magna!)

20h41min Lua Quarto Crescente
23 14h Vênus em conjunção com Antares a 5.6ºN

19h Marte em conjunção com a Lua a 5°N
24 13h Lua no apogeu (405012 km da Terra)

21h Urano em conjunção com a Lua a 3°N
27 16h Aldebaran em conjunção com a Lua 4.5°S
30 00h28min Lua Cheia
31 03h Pollux em conjunção com a Lua a 4°N

* Tempo Legal do fuso -3h

Eventos em negrito são de destaque durante o período.

Para mais informações sobre os fenômenos listados aqui, recomendamos a consulta do Anuário Astronômico Catarinense 2020, de autoria de Alexandre Amorim. Pedidos para: costeira1@yahoo.com.

DESTAQUES DEEP-SKY

OUTUBRO

A GRANDE GALÁXIA DE ANDRÔMEDA

Uma das atrações do céu da primavera, NGC 224 (M-31) é a maior galáxia do grupo local, ao qual também pertence a Via Lactea. Situada a 2.54 milhões de anos-luz de distância, ela desempenhou papel preponderante na pesquisa astrofísica durante o último quartel do século XIX, e no começo do século XX, ajudando os astrônomos a enxergar a diferença entre novas e supernovas [veja a coluna Astronomia Hoje (4), neste Portal], além de demonstrar que a nossa galáxia não era a única existente no universo.

Em céu rural, numa noite sem Lua, você pode ver Andrômeda a olho-nu, como uma pequena mancha luminosa muito pálida, de magnitude integral 3.4, localizada cerca de um grau a noroeste da estrela de quarta magnitude Nu Andromedae [consulte a secção Túnel do Tempo (6), neste Portal]. Ela representa, portanto, o objeto mais distante que o olho humano consegue perceber sem auxílio óptico.

A grande galáxia de Andrômeda: irmã quase gêmea da Via Lactea.
(© Space.com)

De fato, esta galáxia já era conhecida dos antigos árabes, tendo sido assinalada pelo astrônomo iraniano ‘Abd al-Rahman al-Sufi (903 – 986), muitos séculos antes da invenção do telescópio.

Quando você observar este sistema, lembre-se que a pálida luz que entra em seus olhos partiu de Andrômeda quando nossos antepassados australoptecíneos ainda perambulavam pelas savanas da África!

A galáxia de Andrômeda lembra a Via Lactea, embora com algumas diferenças. Seu tipo morfológico de Hubble é SA(s)b, o que indica tratar-se de uma galáxia espiral. Mas seu diâmetro é no mínimo dez por cento maior que o da Via Lactea, e sua massa, avaliada em 1012 massas solares, cerca de dez vezes maior que a massa da nossa galáxia doméstica. Também não parece existir uma barra no núcleo de Andrômeda.

Um survey recente de rádio, no comprimento de onda de 21 cm, não detectou sinais com potencial de origem artificial em Andrômeda [Gray, R., Mooley, K., (2017). Astrophysical Journal, 153, 110]. O resultado negativo permite afirmar, com razoável confiabilidade, que (há 2.54 milhões de anos) não existia por lá nenhuma supercivilização tecnológica transmitindo sinais de rádio intencionais e contínuos na frequência do hidrogênio direcionados para a Via Lactea, dentro do limite de sensibilidade do equipamento empregado.

No futuro distante, a Via Lactea e Andrômeda serão muito mais que vizinhas cósmicas. Dentro de 4.5 bilhões de anos, às vésperas do Sol tornar-se uma estrela gigante vermelha, ambas irão colidir, formando uma só galáxia elíptica gigante, ou talvez uma grande galáxia lenticular.

O coração da Via Lactea é habitado por um buraco negro gigante com massa estimada em 4 milhões de massas solares. De acordo com um estudo recente, esta singularidade poderia ser binária, possuindo um companheiro com no mínimo 100 mil massas solares [Naoz, S., et al., (2019). Astrophysical Journal, 873, 9]. Também existe um buraco negro aninhado no núcleo da galáxia de Andrômeda. Sua massa foi estimada entre 110 e 230 milhões de massas solares [Bender, R., et al., (2005), Astrophysical Journal, 631, 280].

Bilhões de anos no futuro, estes monstros orquestrarão uma dança macabra, regidos pelo maestro da gravidade, terminando por fundirem-se num só. O pulso de ondas gravitacionais produzido pelo evento poderá, quiçá, ser detectado por hipotéticos astrônomos alienígenas vivendo no aglomerado de galáxias de Virgo, ou inclusive muito mais além.

NOVEMBRO

AGLOMERADOS ABERTOS EM TAURUS

As Hyades e as Plêiades, ambas localizadas na constelação zodiacal de Taurus (Touro) são, juntamente com a grande nebulosa de Órion (M-42, veja o próximo destaque), marcas registradas do verão austral. Conhecidas desde a mais remota antiguidade, estes dois aglomerados notáveis sempre capturaram a imaginação das mais diferentes culturas ancestrais.

Plêiades

Na mitologia grega, as Plêiades eram sete irmãs, filhas de Atlas com Pleione. Por serem constatemente perseguidas por Órion, o caçador, elas foram transformadas em estrelas e colocadas no céu. Apesar da sua denominação popular, Sete Irmãs, ou Sete Estrelas, somente seis podem ser discernidas a olho nu. A estrela que falta é conhecida como a “Plêiade Perdida”.

Plêiades e Hyades: atrações do céu no fim do ano.
(© Alson Wong, Swindon Stargazers).

Por cobrirem uma área equivalente a três vezes o tamanho aparente da Lua Cheia, as Plêiades são excelente pedida para um binóculo, ou então um telescópio rich field, isto é,  um instrumento de grande abertura e distância focal curta. Com a ajuda de instrumentos como estes, pode-se ter uma visão de conjunto soberba de todo este objeto, que se revela magnificamente coalhado de dezenas de estrelas mais fracas, invisíveis à vista desarmada.

Imagens CCD e fotografias tradicionais mostram que as Plêiades parecem estar associadas com uma nebulosidade pulverulenta azulada. Durante muito tempo os astrônomos pensaram que tal nebulosa de reflexão fosse remanescente da nuvem primordial que originou o aglomerado, há cerca de 100 milhões de anos. Mas hoje se sabe que a nebulosa simplesmente está na frente do aglomerado, não existindo conexão física real entre eles.

As principais estrelas das Plêiades, com seus nomes próprios oriundos da mitologia. (© pleiade.org)

Pesquisas recentes também apontaram outro resultado curioso: as seis estrelas mais brilhantes, justamente aquelas perceptíveis sem instrumentos, parecem formar uma espécie de corda, situando-se mais próximas de nós que o restante do aglomerado.

No folclore moderno da “ufomania”, ou seja, a moda de acreditar em e ver “discos voadores” tripulados por seres extraterrestres que visitam a Terra hoje e no passado, as Plêiades ocupam lugar de destaque. Segundo alguns ufólogos, existiria uma raça de extraterrestres benignos, denominados “Pleiadianos”, oriundos de Alcyone, a mais brilhante estrela das Plêiades. Poucas coisas poderiam ser mais absurdas: qualquer planeta em órbita daquela estrela seria permanentemente esterilizado por um fluxo letal de radiação ultravioleta, que não permitiria nem mesmo a existência de micróbios em sua superfície!

A distância das Plêiades é estimada entre 430 e 460 anos-luz.

Hyades

As Hyades são o outro aglomerado aberto visível a olho nu na constelação do Touro. De fato, trata-se do aglomerado situado mais próximo ao sistema solar, cobrindo uma área aparente de cerca de 8 graus quadrados.

Em comparação com as Plêiades, as Hyades constituem um cúmulo estelar bem mais antigo, com idade ao redor de 600 milhões de anos. Com forma de letra “V” invertida, representam a cabeça do animal, da qual saem seus chifres, representados pelas estrelas Beta Tauri (El Nath), e Zeta Tauri, ambas situadas mais a nordeste.

As Hyades, com suas principais estrelas identificadas. Aldebaran não pertence ao aglomerado. (© Bob King, 2019, Sky and Telescope)

Mitologicamente, as Hyades eram donzelas meio irmãs das Plêiades. Reza a lenda que, após a morte de Hyas, filho de Atlas e Aethra, durante uma caçada, suas irmãs choraram com tanta tristeza que acabaram morrendo também. Em reconhecimento por seus sentimentos, Zeus as teria colocado entre as estrelas.

A estrela mais brilhante, Aldebaran (Alpha Tauri), representava o olho do touro. Ela é uma gigante alaranjada de magnitude visual 0.9, variável com amplitude de 0.2 magnitudes. Possui uma companheira de magnitude visual 10.7, distanciada de 134 segundos de arco. De novo, aqui as aparências enganam: Aldebaran não faz parte das Hyades! A sua distância é calculada em 65 anos-luz, enquanto o restante do aglomerado se encontra a aproximadamente 150 anos-luz. Trata-se, portanto, de uma superposição casual.

Um binóculo apontado para as Hyades numa noite bem escura irá revelar várias dezenas de estrelas, com destaque para o par Theta 1 e Theta 2 Tauri. As suas componentes são largamente espaçadas, e podem ser discernidas sem auxílio óptico.

Aldebaran e Theta Tauri são dois exemplos bem diferentes do que se costuma designar em astronomia como “duplas ópticas”, isto é,  pares aparentes de estrelas, que não guardam vinculação física entre si.

DEZEMBRO

A GRANDE NEBULOSA EM ÓRION

Não muito distante das “Três Marias”, existem as “pequenas Três Marias”, numa disposição aproximadamente perpendicular às primeiras. Ali situa-se uma das grandes regiões de formação estelar da nossa Galáxia: NGC 1976 (M 42), conhecida como a “grande nebulosa de Órion”. No desenho da figura mitológica do caçador, as Três Marias são o cinto, enquanto M 42 é a sua espada.

A grande nebulosa de Órion e seus arredores.
(© Herbert Störzer, 2020, www.orion2nebulosa.net)

Com distância estimada entre 1500 e 1800 anos-luz, este objeto foi descrito pela primeira vez pelo botânico e astrônomo francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc (1580 – 1637) em 1610. Com uma extensão de cerca de 25 anos-luz, ela é apenas uma dentre várias regiões H II nesta área do céu, estando entre as mais estudadas. Consiste num complexo de nebulosas de emissão e reflexão energizado por um aglomerado de estrelas jovens, quentes e massivas, onde se destaca o sistema múltiplo Theta Orionis, conhecido como “o Trapézio de Órion”.

NGC 1976 (= M 42), com a posição de Theta Orionis assinalada.
Adaptado de www.orion2nebula.net, © Herbert Störzer, 2020.

Para ver a nebulosa de Órion como geralmente ela aparece em imagens ópticas, isto é, com tons vermelhos e azuis entrelaçados, você precisará de um telescópio de grande abertura e distância focal curta. Através de um modesto refrator de 60 mm de diâmetro, a cor da nebulosa limita-se a um verde esbranquiçado muito desbotado. Num refletor newtoniano de 10 polegadas f/4.5 com ocular de 45 vezes, já é possível enxergar as cores. O vermelho é devido à emissão na raia H-Alfa do hidrogênio, em 6563 Ångströns de comprimento de onda, enquanto o azul deve-se à reflexão da luz das estrelas por grãos de poeira. Um refletor de 8 polegadas aberto a f/3, com 50 vezes, realçará ainda mais a visão das cores.

Saiba mais sobre a região de formação estelar e sobre a constelação de Órion visitando o site alemão www.orion2nebulosa.net, mantido por Herbert Störzer.

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