Citações selecionadas do último livro escrito por Stephen Hawking (1942-2018), Breves Respostas para Grandes Questões, traduzido e publicado no Brasil pela Editora Intrínseca, Rio de Janeiro.
Nunca tenha medo de propor uma ideia ou hipótese, por mais absurda que possa parecer. Einstein teve a coragem de perseguir ideias que pareciam absurdas para os outros.
Seja corajoso, seja curioso, seja determinado, supere as probabilidades. É possível.
SOBRE DEUS
Se o universo resulta em nada, não é preciso alguém para criá-lo. O universo é o supremo almoço grátis.
Finalmente encontramos algo que não possui uma causa, porque antes do Big Bang não havia tempo para permitir a existência de uma. Isso significa que não existe a possibilidade de um criador, porque ainda não existia o tempo para que nele houvesse um criador.
Quando me perguntam se um deus criou o universo, digo que a pergunta em si não faz sentido. O tempo não existia antes do Big Bang, assim não existe tempo no qual deus produziu o universo.
A explicação mais simples é que deus não existe. Ninguém criou o universo e ninguém governa nosso destino.
SOBRE O UNIVERSO
A observação de que o céu à noite é escuro implica que o universo não pode ter existido sempre.
Somos o produto de flutuações quânticas em um universo muito primitivo.
SOBRE A RAÇA HUMANA
Não vemos muitos casos de comportamento inteligente na história da raça humana.
SOBRE A VIDA NA TERRA
Não sabemos de que maneira as moléculas de DNA surgiram.
Se o surgimento da vida em um dado planeta fosse muito improvável, seria de se esperar que levasse um longo tempo. O aparecimento da vida na Terra rapidamente sugere uma boa chance da geração espontânea da vida em condições adequadas.
Levou 2,5 bilhões de anos para as células mais primitivas se desenvolverem em organismos multicelulares. Levou menos de 1 bilhão de anos para que se transformassem em peixes, e depois de peixes a mamíferos. Levou apenas 100 milhões de anos para chegar dos primeiros mamíferos até nós. Desse ponto até a evolução dos humanos, foi necessário apenas um ajuste fino.
Com o desenvolvimento da linguagem, a informação pôde ser passada adiante de forma não genética. Assim entramos em uma nova fase de evolução. No início, ela procedeu por seleção natural – a partir de mutações aleatórias. Essa fase darwiniana durou cerca de 3,5 bilhões de anos e produziu os humanos, que desenvolveram linguagem para trocar informação. Nos últimos 10 mil anos, entramos na fase de transmissão externa. O registro externo – em livros e outras formas duradouras de armazenagem – cresceu imensamente.
Provavelmente serão criadas leis contra a engenharia genética em humanos. Mas algumas pessoas não serão capazes de resistir à tentação de aperfeiçoar nossas características, como capacidade de memória, resistência a doenças e expectativa de vida. Quando o super-humano surgir, haverá problemas políticos graves com os humanos não aprimorados, que serão incapazes de competir. Presumivelmente, acabarão morrendo, ou se tornando irrelevantes. No lugar deles estará uma raça de seres autoprojetados se aperfeiçoando a uma taxa cada vez mais acelerada.
SOBRE VIAGENS NO TEMPO
Seria de esperar já termos nos encontrado com uma porção de turistas vindos do futuro, curiosos por conhecer nossos costumes estranhos e antiquados.
Se a viagem no tempo for possível um dia, por que ninguém até hoje voltou do futuro para contar como fazê-lo?
Uma maneira de conciliar a viagem no tempo com o fato de nunca termos tido nenhum visitante do futuro seria dizer que a viagem no tempo só poderá ocorrer rumo ao futuro.
SOBRE A VIDA EXTRATERRESTRE
Estima-se que, a cada cinco estrelas, uma tenha planeta similar à Terra, orbitando a uma distância compatível com as formas de vida que conhecemos.
Estamos acostumados a pensar na vida inteligente como uma consequência inevitável da evolução, mas e se não for assim?
É mais provável que a evolução seja um processo aleatório, com a inteligência sendo apenas um dentre uma quantidade imensa de resultados possíveis.
Poderíamos esperar encontrar muitas formas de vida na Galáxia, mas seria improvável encontrar vida inteligente.
SOBRE NOSSAS CHANCES DE SOBREVIVÊNCIA
Nosso mundo enfrenta uma instabilidade política maior do que em qualquer outro momento. Grande quantidade de pessoas sente ter ficado para trás, econômica e socialmente. Como resultado, tem se voltado a políticos populistas – ou pelo menos populares – com experiência limitada e cuja capacidade para tomar decisões ponderadas em uma crise ainda está para ser testada.
A Terra sofre ameaças em tantas frentes que é difícil permanecer otimista. Os perigos são grandes e numerosos demais. O planeta está ficando pequeno para nós. Recursos físicos estão se esgotando a uma velocidade alarmante. A mudança climática foi uma trágica dádiva humana ao planeta. Temperaturas cada vez mais elevadas, redução da calota polar, desmatamento, superpopulação, doenças, guerras, fome, escassez de água e extermínio de espécies; todos esses problemas poderiam ser resolvidos, mas até hoje não foram.
Um grande perigo nos espreita se governos e sociedades não tomarem uma atitude imediata para tornar as armas nucleares obsoletas e impedir a continuidade da mudança climática.
O derretimento das calotas polares reduz a fração de energia solar refletida de volta ao espaço e aumenta ainda mais a temperatura. A mudança climática pode destruir a Amazônia e outras florestas tropicais, eliminando uma das principais ferramentas para a remoção do dióxido de carbono da atmosfera. A elevação na temperatura do oceano pode provocar a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono. Ambos os fenômenos aumentariam o efeito estufa e exacerbariam o aquecimento global.
Uma colisão de asteróide seria algo contra o qual não temos defesa. A última grande colisão deste tipo ocorreu há cerca de 66 milhões de anos e se acredita que tenha exterminado os dinossauros. Vai acontecer de novo. É uma certeza proporcionada pelas leis da física e da probabilidade.
A guerra nuclear ainda é a maior ameaça no atual momento, embora tenha ficado um pouco esquecida.
Vejo como quase inevitável que um confronto nuclear ou uma catástrofe ambiental dilacere a Terra em algum momento nos próximos mil anos. Quando acontecer, tenho esperança que nossa raça terá encontrado uma maneira de escapar do planeta e sobreviver ao desastre. A mesma providência talvez não seja possível para os milhões de outras espécies que vivem na Terra, e isso pesará em nossa consciência. Estou convencido que os humanos precisam deixar a Terra. Se ficarmos, a aniquilação será um risco. Fica claro que o atual crescimento exponencial não pode prosseguir indefinidamente. Então o que vai acontecer? Uma possibilidade é que vamos nos destruir por causa de algum desastre como guerra nuclear. Mesmo que não, existe a possibilidade de que possamos mergulhar em um estado de brutalidade e barbárie, como na cena de abertura do Exterminador.
SOBRE A EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO
Muitos cientistas atuais resolveram seguir carreira graças às missões lunares. Após o último pouso na Lua, em 1972, o interesse do público declinou, acompanhado por um desencanto geral com a ciência no Ocidente porque, embora ela tivesse trazido grandes benefícios, não resolvera os problemas sociais.
A baixa estima com que os cientistas são vistos pelo público trouxe graves consequências. Vivemos em uma sociedade cada vez mais governada pela ciência e tecnologia, contudo há cada vez menos gente querendo seguir carreira científica.
SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Não vejo diferença significativa entre o funcionamento cerebral de uma minhoca e o processamento de informação por um computador, não há diferença qualitativa entre o cérebro de uma minhoca e o cérebro humano. Se depreende que computadores podem emular a inteligência humana, ou até melhorá-la.
Se a Lei de Moore continuar vigorando sobre a evolução dos computadores, dobrando sua velocidade e capacidade de memória a cada dezoito meses, as máquinas superarão os humanos em inteligência em algum momento nos próximos cem anos. Quando uma inteligência artificial (IA) se tornar melhor do que os humanos em projetar IA, conseguindo se autoaperfeiçoar sem ajuda humana, talvez enfrentemos um boom que resulte em máquinas cuja inteligência excederá a nossa em proporção maior do que a nossa excede a das lesmas.
Não vejo com bons olhos a criação de algo capaz de se igualar a nós ou nos superar. A IA poderia desenvolver vontade própria – e uma vontade conflitante com a nossa.
Não existe lei física que impeça as partículas de se organizarem de modo a realizar computações ainda mais avançadas do que os arranjos no cérebro humano.
O advento da IA superinteligente seria a melhor ou a pior coisa para a humanidade. O risco da IA não é sua maldade, mas sua competência. Uma IA superinteligente será extremamente boa para cumprir seus objetivos; se esses objetivos não estiverem alinhados com os nossos, estamos encrencados.
Não temos como saber se seremos auxiliados infinitamente ou ignorados e esquecidos pela IA – talvez destruídos por ela.
SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
Depois de inventar o fogo e meter os pés pelas mãos com ele, inventamos o extintor de incêndio. Nosso futuro é uma corrida entre o potencial de crescimento da tecnologia e nossa sabedoria ao usá-la. Precisamos garantir que a sabedoria vença.
SOBRE A CULTURA E A EDUCAÇÃO
A mente humana é uma coisa incrível. Ela pode conceber a magnificência do firmamento e as complexidades dos componentes básicos da matéria. Porém, toda mente necessita de uma fagulha para atingir seu pleno potencial. A centelha da curiosidade e da dúvida. Muitas vezes essa centelha vem de um professor. Por trás de toda pessoa excepcional, há um professor excepcional.
Há a ameaça também de nos tornarmos culturalmente isolados e provincianos e cada vez mais distantes de onde o progresso está sendo feito.
Com o Brexit e Trump trazendo novas pressões sobre a imigração e o futuro da educação, presenciamos uma revolta mundial contra o conhecimento especializado, algo que inclui os cientistas. O que podemos fazer para assegurar o futuro da educação em ciência e tecnologia?
A base para o futuro da educação deve residir em escolas e professores inspiradores. As escolas, no entanto, oferecem apenas uma estrutura elementar onde a rotina da decoreba, equações e provas pode indispor os jovens contra a ciência.
Livros de divulgação científica e artigos sobre ciência ajudam. Entretanto, apenas uma pequena parcela da população lê até mesmo o best-seller do momento. Documentários e filmes de ciência atingem um público imenso, mas não passam de comunicação de mão única.
O que está reservado aos jovens de hoje? Serão mais dependentes da ciência e da tecnologia do que qualquer geração anterior. Eles precisam saber mais sobre ciência do que qualquer um antes deles, porque ela faz parte de suas vidas diárias de uma maneira sem precedentes.
Há problemas que devem ser abordados, agora e no futuro. Entre eles, o aquecimento global, o crescimento descontrolado da população humana, a rápida extinção de outras espécies, a necessidade de fontes de energia renovável, a degradação dos oceanos, o desmatamento e as doenças epidêmicas – só para mencionar alguns.
Temos que assegurar que a atual geração de crianças tenha não apenas a oportunidade, como também o desejo de mergulhar a fundo no estudo da ciência desde o nível mais básico, de modo que um dia possa concretizar seu potencial e criar um mundo melhor para toda a raça humana.
Acredito que o futuro do aprendizado e da educação está na internet. A internet conecta todo mundo como os neurônios em um cérebro gigante.
Quando eu era jovem, ainda era aceitável – em termos sociais – afirmar que você não estava interessado em ciência, e que não via por que se dar ao trabalho de aprender. Hoje em dia não é mais assim.
Defendo que todos os jovens deveriam estar familiarizados e à vontade com os temas da ciência, independentemente da carreira que seguirem. Esses indivíduos não devem crescer como analfabetos científicos e precisam ser inspirados a se envolver com ciência e tecnologia para aprender mais.
Não acredito em limites, seja em nossa vida pessoal, seja para o que a vida e a inteligência podem conquistar no universo.
Por meio do esforço científico e da inovação tecnológica, devemos voltar nossa atenção para o universo mais amplo, ao mesmo tempo em que lutamos para resolver os problemas na Terra.
Proporcionar acesso à emoção e ao espanto da revelação científica, criando maneiras inovadoras e acessíveis de atingir o maior público jovem possível, aumentará em muito nossas chances de encontrar e inspirar um novo Einstein. Esteja ele ou ela onde estiver.
Lembre-se de olhar para as estrelas, não para os próprios pés. Seja curioso. E, por mais que a vida pareça difícil, sempre há algo que você pode e consegue fazer. Nunca desista. Deixe sua imaginação correr solta. Molde o futuro.
(Resenha elaborada por Luiz Augusto L. da Silva).