Túnel do Tempo – Memórias de um Astrônomo

35 ANOS…REENCONTRO DO COMETA HALLEY

REENCONTRO DO COMETA HALLEY

            A terça-feira, 5 de novembro de 1985, assistiu à formação de algumas nuvens Cumulonimbus sobre a capital gaúcha, produzindo trovoadas ao redor do meio dia. Mas durante a tarde o tempo clareou, e fui à Feira do Livro, no centro da cidade. No início da noite, desloquei-me, juntamente com Gilberto Klar Renner, do planetário da UFRGS, e os astrônomos amadores Luís Antonio da Silva Machado e Marcelo Didonet Nery, ambos da Sociedade Astronômica Riograndense (SARG), para a zona sul de Porto Alegre, adentrando o Parque Estadual de Itapoã, levando o refletor newtoniano de 200 mm de abertura f/3, de construção caseira, pertencente ao Marcelo. O primeiro alvo da noite foi a grande nebulosa de Órion, M 42. Enxergamos cores, vermelho e azul, igualzinho às fotos, embora com menos contraste e intensidade. A seguir, localizamos o cometa Halley, entre os chifres do Touro, mais ou menos na metade do caminho entre Aldebaran e Beta Tauri. Parecia uma bolinha de algodão. Consta nos arquivos oficiais do programa International Halley Watch (Edberg, S. J., 1996, ed., The Archive of the Amateur Observation Network of The International Halley Watch, Vol. 2: Comet Halley, JPL Publication 96-3, Vol. 2, Jet Propulsion Laboratory, Pasadena, CA, USA) a minha estimativa visual da magnitude total da coma, feita com um binóculo 20×50, em Nov. 06.062 TU: 8.4. O grau de condensação da coma foi estimado em 3, um valor indicativo de uma coma medianamente condensada.

            Retornamos para o centro da cidade e, excitados, ao redor das 3 horas da madrugada, invadimos o plantão de reportagem do jornal Zero Hora, na Ipiranga com Érico Veríssimo, para comunicar o fato. Era a primeira observação conhecida do célebre cometa no estado do Rio Grande do Sul desde a última aparição, em 1910! Voltamos à tarde, na redação, para sermos fotografados, junto com o telescópio. A edição do dia seguinte, 7, trouxe a matéria. Um dia depois, na manhã da sexta-feira 8 de novembro, eu conversava a respeito, por telefone, com o jornalista Mendes Ribeiro, ao vivo na programação da Rádio Gaúcha.

            Faltam ainda 41 anos para a próxima passagem do Halley pelo periélio, prevista para 28 de julho de 2061. Será uma aparição melhor que a última, estimando-se que o brilho máximo seja de magnitude -0.3. A aparição seguinte, em 2134, será ainda melhor, com o cometa alcançando a magnitude -2!

            Atualmente o cometa Halley encontra-se próximo à cabeça da constelação de Hydra, a 5.093 bilhões de quilômetros do Sol, com magnitude visual 25.5. O afélio será atingido em 2 de Novembro de 2023, a 5.3 bilhões de quilômetros.

            Quando o Halley voltar, estarei completando 100 anos. É claro que pretendo reencontrar-me com meu velho e querido amigo!

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