Crônicas

NOITES DE METEOROS

O COMPLEXO METEÓRICO ECLÍPTICO DE INVERNO

Luiz Augusto L. da Silva*

As noites longas e geladas do inverno oferecem aos habitantes das regiões subtropicais ao sul do equador a oportunidade de acompanhar um dos períodos mais ricos em atividade meteórica. Todos os anos, principalmente ao redor da transição entre Julho e Agosto, as horas escuras da madrugada apresentam vários pequenos radiantes ativos os quais, no conjunto, produzem taxas horárias razoáveis. É o que costumamos denominar de complexo meteórico eclíptico de inverno.

Ao redor das 3 horas da madrugada, todos estes radiantes rondam o zênite, assim garantindo que, num céu com magnitude limite próxima de 6.5 e sem a presença da Lua, as taxas observadas sejam muito próximas às taxas horárias zenitais.

Delta Aquáridas

A principal chuva de meteoros do período é a Delta Aquáridas, na constelação de Aquarius (Aquário). Ela possui um radiante duplo. O seu radiante Sul mostra atividade entre 12 de Julho e 23 de Agosto, com máximo dia 29 de Julho, na longitude solar de 127 graus. Os meteoros são usualmente fracos, sem rastros, e sem produção de bólidos, porém o nível  de atividade permanece bom pelo período de uma semana centrado na data do máximo, com taxas horárias zenitais ao redor de 25. O radiante localiza-se na ascenção reta 340o, declinação -16o, e os meteoros costumam ser rápidos, com velocidades da ordem de 40 km/s. Parece que estes meteoros derivam de uma corrente meteoroidal originada a partir do cometa 96P/Machholz. Neste ano, no dia do máximo, a fase lunar será 76% crescente, deixando de interferir após as 2h30min.

Delta Aquáridas: show meteórico nas madrugadas geladas (SPACE India).

O radiante Norte das Delta Aquáridas fica ativo entre 16 de Julho e 10 de Setembro, um longo período de tempo, com máximo dia 13 de Agosto,   na longitude   solar  141  graus.   Estes   meteoros       apresentam praticamente a mesma velocidade daqueles do radiante Sul, sendo no entanto um pouco mais lentos (38 km/s). A posição do radiante é ascenção reta 347.6o e declinação +2.1o. Este ano, no dia do máximo,a Lua vai estar minguante, apenas 29% iluminada, nascendo por volta das 2 horas, sem interferir de forma significativa.

A posição do radiante das Delta Aquáridas Sul. Imagem: EXOSS Citizen Science Project/ASTRONOMY.

Alfa Capricórnidas

Uma chuva de meteoros de menor porte soma-se à atividade das Delta Aquáridas. São as Alfa Capricórnidas, com radiante na constelação de Capricornus (Capricórnio). Seu período de atividade vai desde 3 de Julho até 15 de agosto, com máximo também no dia 29 de Julho. Os meteoros parecem provir de um ponto situado na ascenção reta 307o e declinação -10o, sendo lentos (23 km/s) e muito brilhantes, frequentemente amarelos. O máximo tem a forma de um platô, ao redor de 29 e 30 de Julho, e esta chuva, apesar da taxa horária zenital pequena (5/h) é famosa pelos bólidos brilhantes que costuma apresentar. O cometa associado é provavelmente o 169P/NEAT.

Posição do radiante da chuva de meteoros Alfa Capricórnidas. (TheSkyLive.com

Pisces Austrálidas

Outra chuva pequena que se junta às Delta Aquáridas e Alfa Capricórnidas nesta mesma época do ano é a Pisces Austrálidas, ativa entre 30 de Julho e 18 de Agosto, com máximo dia 8 de Agosto, produzindo cerca de 5 meteoros rápidos por hora (44 km/s). O radiante fica na constelação de Pisces Austrinus (Peixe Austral). De acordo com o Anuário Astronômico Catarinense 2020, de autoria de Alexandre Amorim, em anos recentes este radiante tem recebido pouca cobertura observacional.

Iota Aquáridas

Para completar o conjunto dos principais radiantes meteóricos ativos nesta época do ano, devemos citar ainda as Iota Aquáridas. Esta chuva também possui um duplo radiante. O radiante Sul permanece ativo entre 1 de Julho e 18 de setembro, com máximo em 6 de Agosto, enquanto o radiante Norte, manifesta-se entre 11 de Agosto e 10 de Setembro. São meteoros lentos, ao redor de 30 km/s, e as taxas horárias são baixas, ao redor de 20 meteoros por hora, no máximo.

Outros radiantes

Nas observações destas chuvas meteóricas realizadas pelo autor, durante o inverno de 1979, resultou bastante evidenciada a atividade de um pequeno radiante adicional, na época catalogado como Beta Cetídeos. Ele produzia meteoros alaranjados muito velozes, com rastros levemente persistentes, mas não há citação sobre ele, quer nas listas oficiais da União Astronômica Internacional, quer nas listas da International Meteor Organization (IMO) hoje em dia.

Melhor período

Se o objetivo é maximizar a quantidade de meteoros vistos por hora, o melhor período para observar estas chuvas corresponde a aquele que vai de 29 de Julho a 6 de Agosto. Em 2020, infelizmente a Lua vai estar Cheia no dia 3 de Agosto, e quando isto acontece ela se situa bem em cima das posições dos radiantes… A semana entre 10 e 18 de Agosto é o próximo melhor período, já com a Lua minguando e interferindo menos a cada noite. Em condições ideais de céu e obscuridade, pode-se esperar ver entre 40 e 50 meteoros por hora associados a este conjunto notável de radiantes.

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*Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo e, desde 1973, nunca ficou com berrugas nos dedos ao apontar para uma estrela cadente!

(www.luizaugustoldasilva.com)

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