Túnel do Tempo – Memórias de um Astrônomo

HÁ 46 ANOS… SATURNO PELA PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE!

Entre as páginas amareladas do meu surrado exemplar da segunda edição do Atlas Celeste, de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (Editora Civilização Brasileira, 1973), encontro um pequeno recorte do jornal Correio do Povo (sem data anotada mas, com certeza, de algum momento da primavera de 1974), intitulado Astronomia Popular, assinado pelo jornalista gaúcho Fernando G. Sampaio. Inserido na tradicional coluna Do Bria-à-Brac da Vida, organizada por Nilo Tapecoara, o texto rezava:

Saturno e seus Anéis – Depois de algum tempo escondido, Saturno volta ao nosso céu, para deleite dos que possuem lunetas e telescópios. (…) A inclinação dos anéis favorece, bastante, sua observação já, agora. Saturno é uma estrela amarelada, que não pisca, que aparece pela meia noite, no lado Leste do céu, depois que o Órion (com seu cinturão, chamado Três Marias), já está alto no céu. Abaixo do Órion, portanto, os leitores verão uma estrela diferente. É Saturno. Uma luneta com 30 aumentos, de boa qualidade, já mostra os anéis. Mais para o verão, o planeta nascerá mais cedo e estará alto, no céu, já pelas 10 horas da noite. Assim, na serra ou na praia, sua observação será algo espetacular. Seu grande satélite, Titan (com atmosfera) se vê ao lado, inclusive com bons binóculos 6 x 40 em diante.

Aproximava-se o verão de 1975. Eu tinha 13 anos, e possuía uma pequena luneta altazimutal de 40 mm de abertura, munida de uma ocular que proporcionava 40 aumentos. Meu primeiro telescópio. Semelhante à velha primeira luneta de Galileu. Os leitores ainda podem vê-la sobre a mesa principal do estúdio onde gravamos as Oficinas de Astronomia, para a Rede Omega Centauri. Fiquei entusiasmado. Já havia identificado Vênus e Júpiter. Agora seria a vez de Saturno!

Numa noite estrelada e sem vento, fui para o fundo do quintal, acompanhado por meu cãozinho, ao qual meus pais haviam dado o esquisito nome de Pombinho, fiel companheiro de noitadas de observações e, seguindo as instruções de Sampaio, achei Saturno sem dificuldades. Lá estava ele, no centro da constelação de Gemini (Gêmeos), brilhando serenamente com um brilho discreto e estável, com cor amarela desbotada. Sem a vivacidade de Júpiter, ou a alvura de Vênus mas, ainda assim, inconfundível. Marquei sua posição à lápis, numa das cartas do Atlas Celeste.

Em seguida, apontei a luneta e ajustei o foco. Pude ver os anéis pela primeira vez em minha vida e, com muita dificuldade, Titan. Ambos sorriam para mim…

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